Dúvidas e certezas no Salão [Alta Roda]


Frankfurt, maior salão do automóvel do mundo em área de exposição (cerca de 240.000 m²), reacendeu as discussões sobre o futuro da mobilidade. A mostra encerra-se no próximo dia 22 e deixou no ar, pelo menos, uma certeza e uma dúvida. Que os convencionais motores a combustão interna (MCI) estarão na maioria dos carros nos próximos 20 anos (talvez até 30 anos), não restam quase vozes discordantes. Outro tema, a direção autônoma em que um automóvel pode ser guiado sem ajuda do motorista, divide opiniões.


Nos próximos cinco anos, avanços nos MCI serão marcantes. Entretanto, os elétricos em muitos casos trabalharão em conjunto. Assim, híbridos de várias graduações terão participação crescente. Dois exemplos, no salão, confirmam: Porsche 918 Spyder – superesporte, de quase 900 cv, dois motores elétricos e um a combustão – e BMW i8 – cupê de 367 cv totais, cujo motor elétrico permite que o a combustão rode a média de 37 km/l (ciclo europeu). Ambos plugáveis em tomadas para abreviar carregamento das baterias.


Tecnicamente até 2020 será possível adquirir, por preço alto diga-se, um automóvel capaz de viajar de uma cidade a outra sem que o motorista toque em qualquer comando. Sistema será seguro, mas há obstáculos legais e até de mercado. Americanos do Google aparentemente estavam adiantados com seu espalhafatoso giroscópio no teto. Europeus deram o troco: Mercedes-Benz S500, sem mudanças externas, fez uma viagem de 100 km, entre Mannheim e Pforzheim, de modo autônomo. No banco, o motorista só supervisionava, em um filme que alcançou sucesso no estande da marca. Em médio prazo, porém, sistemas semiautônomos são mais viáveis e tornarão os carros quase imunes a acidentes.


Um dos lançamentos mundiais, o crossover compacto GLA será produzido na nova fábrica brasileira da Mercedes-Benz e dividiu as atenções com o cupê CL, mostrado como carro-conceito, embora praticamente pronto. Avanço dos crossovers, em geral SUVs “civilizados”, se comprovou pelo modelo conceitual Jaguar C-X17, previsto para 2016. Interessante também o Citroën Cactus, futuro C4 Aircross. Peugeot estreou novo 308 já com a nova arquitetura modular (mesma solução criada pelo Grupo VW para gerar muitos modelos) e interior refinado que inclui tela tátil enorme de quase 10 pol.


Carros conceituais se destacaram em vários estandes. Alguns, como o Ford S-Max Concept, apresentam a renovação estilística dos crossovers da marca (futuro Edge). É o caso também do Volvo Concept Coupé que carrega nova assinatura frontal da marca sueca. Fourjoy ainda estava bem disfarçado, mas abre a visão do próximo smart de quatro lugares (o de dois lugares será uma versão encurtada). Este dividirá a mesma arquitetura com o próximo Renault Twingo que trocará a tração dianteira pela traseira.


Coincidentemente, tanto Ford como Renault investirão em modelos mais sofisticados, apelando para grifes como Vignale e Initiale. Curioso também foi a BMW quebrar a tradição de só produzir veículos de tração traseira. O monovolume Concept Active Tourer Outdoor será o primeiro com tração dianteira em sua história, ao dividir arquitetura com a MINI, marca inglesa do grupo do qual faz parte a Rolls-Royce.













RODA VIVA


AUDI confirmou, em Brasília, que produzirá o sedã A3 sedã e o SUV dele derivado Q3, na fábrica da Volkswagen de São José dos Pinhais, PR. Curiosamente, a subsidiária de carros de topo do grupo alemão anunciou primeiro instalações no México, onde produzirá o Q5 em 2016. Depois foi a vez do Brasil, mas aqui a produção começará antes, em 2015.

PRÓXIMO passo será novo Golf VII, também no Paraná, pois arquitetura dos carros é a mesma. Assim, investimento inicial da Audi, R$ 450 milhões, ficou menor que o da BMW em Santa Catarina. No entanto, VW dará boa ajuda, pois produzirá também o motor flex 1,4 turbo (injeção direta), na fábrica de São Carlos, SP, para os três modelos.


RESTA apenas a Mercedes-Benz anunciar sua nova fábrica, no Estado de São Paulo (Iracemápolis, provavelmente). De lá sairá, além do GLA, o novo sedã da Classe C cuja estreia mundial ocorrerá no Salão de Detroit, em janeiro próximo, e também a ser produzido nos EUA. Início de operação aqui será em 2015, podendo resvalar para início de 2016.


CABERÁ à Land Rover, frente a esses investimentos, a próxima decisão estratégica sobre o Brasil. Aos ingleses não restariam alternativas: produzir aqui ou penar no mercado. Aposta sobre o local da fábrica aponta para o Estado do Rio de Janeiro. Range Rover Evoque, Freelander e possivelmente novo Defender são produtos com possibilidade de nacionalização.

FONTE da coluna garante que o governo federal desistirá de obrigar a todos os veículos produzidos aqui ou importados a virem com rastreadores, a partir de 1º de janeiro próximo. Desculpa oficial será dificuldades técnicas pelo volumoso tráfego de dados, que de fato existem na rede celular. Tentativa de saída honrosa para algo que nunca devia ter sido cogitado.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).




Comentários