Viagem ao futuro [Alta Roda]


Ausência de dez marcas no maior salão de automóveis do mundo, o de Frankfurt até o próximo dia 24, levou ao debate se esse tipo de exposição estaria em crise. Há exagero nessa suposição. Maioria das desistentes nada tinha a mostrar ou sua presença é fraca no mercado alemão. Claro que organizadores de exposições precisam reagir, mas os salões ainda atraem multidões, despertam sonhos e indicam tendências.



Daqui para frente alternativas de mobilidade, conectividade e novas tecnologias responsáveis por mudanças disruptivas no modo como os veículos são dirigidos e tipo de propulsão, tendem a deixar visitantes ainda mais interessados sobre o futuro. Eles se dividem entre o Bugatti Chiron W-16, que exibe num telão ser capaz de acelerar de zero a 400 km/h e parar em pouco menos de 42 segundos, e o minúsculo smart Fortwo que terá apenas propulsão elétrica ao final desta década.


Sem esquecer de híbridos, como o supercarro esporte Project One apresentado pela Mercedes-Benz. Motor a gasolina vem da F-1 e a potência combinada com quatro elétricos supera 1.000 cv. Apenas 275 unidades serão produzidas ao preço estimado, na Europa, de € 2,275 milhões (R$ 8,5 milhões). Para contrastar, a marca alemã exibiu ao seu lado o EQA, visão de um futuro Classe A elétrico.


Audi, por sua vez, embalada pelo novo A8, primeiro modelo no mundo homologado no nível 3 de automação (motorista não precisa tocar em pedais e volante até 65 km/h), apresentou dois automóveis conceituais. O Elaine tem nível 4 e mantém os comandos apenas para situações específicas, enquanto o Aicon se enquadra no nível 5 de autonomia absoluta, sem pedais e volante. Ambos são muito elegantes, sem rompantes estilísticos.


BMW indicou como será o seu futuro elétrico i5, sedã-cupê grande de quatro portas, ainda sem todas as definições de desenho. Outros dois cupês demonstram que os carros convencionais estarão presentes ainda por bom tempo. Tanto Z4 quanto Série 8 enchem os olhos pelo equilíbrio de linhas.


Em atitude de virar a página do triste episódio dos motores Diesel fora dos limites de emissões, revelado na edição anterior do Salão de Frankfurt (2015), a Volkswagen continuou a defender suas soluções movidas a bateria. Mostrou versões evoluídas do monovolume Sedric e do crossover I.D. Crozz II, este bem mais próximo da versão definitiva. A empresa pretende lançar 30 modelos elétricos e eletrificados até 2025 na maior guinada técnica de sua história.

Modelos de mecânica tradicional também eletrizam a audiência. Caso do inteiramente novo Ferrari Portofino, conversível de teto retrátil rígido sucessor do California T e motor V-8 de 600 cv. Bentley Continental GT também estreia nova geração, de estilo ainda mais apurado e motor W-12 de 635 cv. A Porsche destaca a terceira geração do “utilitário” esporte Cayenne responsável pela febre de SUV irradiada entre concorrentes diretos e indiretos. SUV Jaguar E-Pace é um dos estreantes no Salão.


Dacia Duster surgiu em nova geração que vai inspirar o Renault homônimo produzido no Paraná, dentro de dois anos, com as devidas adequações ao mercado brasileiro. Já o Citroën C3 Aircross impressionou bem por ser um todo novo SUV compacto de linhas modernas e equilibradas, mas sem previsão de produção aqui.

RODA VIVA


TOYOTA confirmará na próxima semana expansão de modelos produzidos no Brasil. Depois de muitas negativas anunciará oficialmente o Yaris (hatch) e Vios (sedã) que estarão à venda no segundo trimestre de 2018 na concorrida faixa dos compactos entre R$ 50.000 e R$ 75.000. Não utilizarão, porém, a plataforma TNGA que estreia no novo Corolla apenas em 2019.

SIMPÓSIO Internacional de Engenharia Automotiva (Simea), em sua 25ª edição semana passada em São Paulo, focou na necessidade de o Brasil se inserir na rota tecnológica mundial de veículos híbridos e, em etapa mais distante, elétricos. Equação bem difícil de resolver pois tudo é muito caro. Voltou à baila a pilha a hidrogênio (energia elétrica a partir de etanol).

AUDI TT RS tem desempenho muito forte com o motor 5-cilindros (único a gasolina em produção no mundo), 2,5 litros turbo, 400 cv e tração 4x4. Em autoestradas alemãs encarou modelos mais potentes por ser menor e mais leve. Vai de 0 a 100 km/h em 3,6 s, apenas um décimo de segundo a mais do que, por exemplo, o Ferrari Portofino de potência 50% superior.


RECURSOS de segurança como seis airbags, ESC (controle de trajetória), faróis e luzes diurnas de LED estão na atualização de meia geração do Fit 2018. Para-choques maiores (2 cm na frente 8 cm atrás) vão além da função estética, pois protegem melhor a carroceria em pequenas colisões. De R$ 58.700,00 a R$ 80.900. Aumento foi inferior aos itens agregados.

MARCAS japonesas continuam a desenvolver motores de ciclo Otto de alta tecnologia, independentemente dos elétricos. Em 2016 a Infiniti (divisão de luxo da Nissan) e agora a Toyota apostam em taxas de compressão variáveis. É recurso ideal para motores flex. Mazda avançou mais com redução de 30% no consumo de gasolina ao adotar ciclo misto (Otto e Diesel).

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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