Uma voltinha neste VW Gol 1995/96 que era 1000 e hoje tem motor 1.9 Turbo!

Texto e fotos | Júlio Max, de Teresina - PI
Matéria feita em parceria com @showcarsthe

Ao longo de 42 anos de produção, o Volkswagen Gol fez (e ainda faz) parte da história da vida de muita gente no Brasil - e a versão 1000 teve papel significativo na popularização do hatch ao longo da década de 90. Este modelo foi apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo em outubro de 1992 como uma resposta ao Fiat Uno Mille, que chegara ao mercado nacional dois anos antes e vinha fazendo sucesso por conta de seu preço competitivo (que, em parte, era explicado pelo fato de que veículos com motores de até 1000 cm³ passaram a estar enquadrados em uma faixa menor de impostos sobre produtos industrializados; além disso, o despojamento de itens desta versão também contribuía para que o preço fosse significativamente menor do que o de outras opções). A Chevrolet se mexeu e lançou em 1992 o Chevette Júnior, também com motor 1.0. Ainda viria o Ford Escort Hobby 1.0 um ano depois.

O Gol 1000 era ainda mais simples do que a versão CL 1.6, que era a opção mais básica do hatch da Volks até 1992. Com o mote "Chegou o Gol 1000. Para você que sempre quis um Gol zero", a então nova versão básica abria mão do retrovisor do lado direito (que passava a ser opcional) e adotava quebra-ventos fixos e frisos laterais bem mais finos. Já o quadro de instrumentos perdia o marcador de temperatura do líquido de arrefecimento do motor (substituído por uma luz-espia) e o hodômetro parcial. O estilo das rodas de aço, os piscas dianteiros totalmente alaranjados e o logotipo eram exclusivos para esta versão. O motor de 997 cm³ mantinha a carburação, mas o catalisador era item de série.

No final de 1994, o Gol passou por uma extensa reformulação: chegava a "Geração 2", conhecida como Bola/Bolinha. Quase todas as versões do hatch compacto passaram a ter a então nova carroceria. No entanto, o modelo de carroceria "quadrada", lançado em 1980 e reestilizado em 1987 e 1990, continuou em produção até meados de 1996, convivendo com o Gol 1000i Plus - que já trazia injeção eletrônica monoponto de combustível. O exemplar desta matéria, aliás, é um dos representantes da última fase da primeira geração do popular da Volkswagen. Mas este carro está bem modificado...

Por fora, pouca coisa foi mexida neste exemplar. Os para-choques, por exemplo, mantém a tonalidade cinza, sem frisos, enquanto as lentes dos conjuntos ópticos conservam os piscas na tonalidade âmbar original. Foi adicionado o retrovisor do lado direito (que não era item de série do Gol 1000). As rodas passam a ser as Weld Racing Pro Star de 15 polegadas (curiosamente, calçadas com pneus 195/55 na frente e 195/50 atrás), no lugar das rodas aro 13 originais. Além disso, a pintura da carroceria, que era originalmente prateada, passa a assumir o tom preto perolizado (inclusive nas capas dos retrovisores externos), e o para-choque dianteiro agora abriga faróis de neblina. Atrás, a saída de escape ampliada e as mangueiras de combustível aparentes denunciam que este Gol, de 1000, só tem o documento.

Na parte interna, as modificações foram mais extensas. O painel de plástico injetado foi pintado na mesma cor da carroceria e o couro bege passa a recobrir os bancos, os forros das portas e as laterais traseiras. Além disso, o VW passa a ter volante Lowv 01 Sniper aliviado, com 36 centímetros de diâmetro, e manopla de câmbio Speed com 10 centímetros de altura.

O quadro de instrumentos original, que traz somente velocímetro (com escala de 20 a 180 km/h), hodômetro total, marcador do nível de combustível e luzes-espia, agora convive com o visor da Fueltech Wideband Nano e é complementado pelos marcadores analógicos de pressão do turbocompressor e conta-giros com escala até 10 mil rpm, além das informações registradas pelo visor da Fueltech FT300.

A lista de itens de fábrica do mais simples dos Gol era bem enxuta e incluía ventilação da cabine com difusores no painel, porta-luvas com tampa, lavador dianteiro com bomba elétrica e limpadores com temporizador, para-sóis monoarticulados (forrados em curvim, assim como o revestimento do teto), cintos dianteiros com retorno automático, apoios de cabeça dianteiros, banco traseiro com encosto dobrável e console central com cinzeiro. Sim, por mais simples que o carro fosse, o acendedor de cigarros não podia faltar naquela época.

O motor 1.0 original a gasolina, de 50 cavalos a 5800 rpm e 7,3 kgfm de torque a 3500 rpm, deu lugar a um 1.9 Turbo movido a etanol, cuja turbina (A.50 Auto Avionics) atualmente trabalha a até 1,0 bar de pressão. O propulsor é gerenciado pela injeção eletrônica programável Fueltech FT300. O cofre, pintado de bege (assim como o revestimento interno), também abriga uma barra anti-torção. Outras modificações incluem: bobinas individuais do Gol G6, embreagem de cerâmica, prisioneiros forjados, bicos injetores Bosch (80 lbs/h 0280.158.209), fiação em malha náutica, pressurização em inox, válvula de prioridade Blow Off RGTX, kit de polias RGTX, alternador GM (90 Ampères), linha de combustível em cobre, bomba de combustível Mercedes (12 bar), Cash Tank, suspensão a rosca e coxins de poliuretano.

Impressões ao dirigir

Dar a partida neste Gol requer um ritual diferenciado: depois de pisar no pedal de embreagem e girar a chave no tambor da ignição, é necessário levantar os botões para acionar os três switches do painel e, por fim, apertar o botão de partida. Com os pneus largos e a direção mecânica, esterçar este carro para entrar em uma vaga exige que as sessões na academia estejam em dia, mas o esforço com o veículo em movimento é bem menor. O volante é do tipo aliviado, sem revestimento do aro, que é feito de metal. Pesa apenas 600 gramas, mas acaba retendo calor em dias quentes.

A dirigibilidade deste Gol é interessante. O pedal de embreagem é até leve, para um carro com mecânica tão modificada; além disso, a manopla de câmbio mais alta facilita o engate, e as marchas entram corretamente. A ré, que fica atrás da quinta marcha, exige que a alavanca seja deslocada para baixo. Parado com câmbio em neutro num semáforo, o funcionamento deste motor pode ser considerado suave e até silencioso para os padrões dos carros preparados e turbinados - ainda mais entre os movidos a álcool. Mas manter o motor em giro baixo em movimento faz com que o carro "reclame" com engasgadas: ele pede que você acelere mais.

O túnel central esquenta as pernas dos ocupantes dianteiros, como é bem típico de modelos preparados da Volkswagen com a plataforma BX (a Saveiro GTi que foi tema de matéria em setembro de 2022 apresentava esta mesma característica). Por isso, abrir totalmente as janelas (e os quebra-ventos dianteiros, que são funcionais neste exemplar) é praticamente obrigatório antes de sair por aí. A visibilidade pelo retrovisor interno é muito boa - e razoável pelos espelhos externos.

A valentia deste Gol nas acelerações é bem notável: pisando totalmente no pedal direito, ele destraciona e zarpa com uma rapidez surpreendente, deixando rastros de pneus no asfalto. A versão 1000 original tinha peso de apenas 860 quilos, o que ajuda a explicar esta agilidade. E, mesmo em situações de paradas rápidas, os freios mostram boa atuação. Durante nossa volta, um fato curioso: o motorista de uma Oroch emparelhou e baixou o vidro para perguntar se este carro "era de arrancada". O bom estado de conservação e as rodas cromadas também fazem este Gol atrair olhares e elogios de pessoas pelas ruas.

Para concluir...

Ainda muito admirado em todo o Brasil, o Volkswagen Gol de primeira geração simboliza uma parte do passado que normalmente está associada a bons momentos da vida das pessoas. Enquanto a versão 1000 original foi uma alternativa simples e econômica de ter um carro na garagem, os exemplares preparados (como este) mostram que é possível se divertir muito com modificações mecânicas.

Vem conferir a Galeria de Fotos do Volkswagen Gol 1995/1996 1.9 Turbo!





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