Equilíbrio alcançado [Coluna Fernando Calmon]


O programa IncentivAuto do governo de São Paulo para estimular a produção de veículos no Estado pode parecer que se trata de uma guerra fiscal, mas não é. Afinal, além das contrapartidas obrigatórias, a intenção foi apenas se aproximar – não superá-las – das condições já oferecidas por outros Estados. Até o momento, infraestrutura de transporte e logística, mão de obra especializada e grande parque de fornecedores em São Paulo haviam sido suficientes para dispensar a renúncia de impostos.

Na grande maioria dos países, investimentos da indústria automobilística são altamente disputados. Quando marcas japonesas se instalaram nos EUA há mais de 30 anos, Estados do Centro e do Sul do país ofereceram vantagens financeiras fabulosas. Isso ajudou a desequilibrar a concorrência com as Três Grandes de Detroit (GM, Chrysler e Ford). Foi um dos motivos para as duas primeiras quebrarem financeiramente, na crise bancária de 2008/2009.


No Brasil, o cenário se repetiu. Nos anos 1970, sem o investimento do governo de Minas Gerais, a Fiat nunca teria vindo. Outros exemplos: GM, em Gravataí (RS), Ford, em Camaçari (BA) e FCA, em Goiana (PE). Estado do Rio de Janeiro também atraiu PSA Peugeot Citroën, Nissan e VW Caminhões. Goiás, a CAOA Hyundai e Mitsubishi. Paraná, a Volvo Caminhões, Renault e VW. Em todos os casos incluíram-se robustos incentivos fiscais.


A GM foi a primeira a se enquadrar nas novas regras no programa paulista. Este exige criar um mínimo de 400 empregos diretos e 800 indiretos (pode parecer pouco, mas não é, porque automação da produção tornou-se irreversível no mundo todo) e em troca entra um desconto de 2,5% do ICMS para cada R$ 1 bilhão investido. Como a empresa desembolsará R$ 10 bilhões, terá direito ao crédito máximo de 25% de ICMS.

Outros Estados oferecem ou ofereceram descontos de até 100% do ICMS. Era o que tinham disponível para atrair empresas e mudar seu raquitismo econômico.

Sem dúvida, a marca americana agiu rapidamente, incluindo todos os envolvidos: concessionárias (menos 1 ponto percentual da margem líquida de venda), fornecedores (concordaram com reduções de preços e/ou sua manutenção pelos próximos dois anos) e o sindicato de São José dos Campos (SP) abriu mão de parte de vantagens salariais.

O governo paulista ficou por último nessa pretensa guerra fiscal, mas mostrou uma posição pragmática. Se nada fizesse, investimentos não viriam e muito menos os impostos. Quem iria piscar primeiro, olho no olho? Assim é no mundo todo: de pouco adianta espernear.

São Paulo, no entanto, abusou no capítulo dos impostos não compensados sobre veículos vendidos ao exterior. Exportar impostos é uma brincadeira que só existe aqui. Agora, promete equacionar o problema, como o Paraná já o fez.

Outro fato importante, Brasil e México concordaram em estabelecer livre comércio de veículos, sem taxas ou cotas, a partir deste mês. Mexicanos aceitaram aumentar o conteúdo de peças locais para 40% e vão incluir caminhões no acordo. Fabricantes aqui instalados temem perder investimentos – além do que já perderam.

Mas o jogo é assim mesmo: não dá para ganhar sempre, nem perder sempre. Há de existir um equilíbrio.

ALTA RODA


DOR DE CABEÇA com nova versão do sistema operacional Android 9 Pie para smartphones. Aplicativo Android Auto passa a não se comunicar com as centrais multimídia, mesmo as mais modernas, como a Ford Sync 3. Não é possível usar nem Waze e nem Google Maps. Recomendável procurar concessionárias de veículos para atualização ou desinstalar o Android Auto.


BMW SÉRIE 3, sétima geração, oferece mais espaço interno, em especial no banco traseiro, sem perder o mínimo de esportividade. Externamente conservou a tradição da grade do radiador (ligeiramente maior) e a elegância do desenho (evoluído) das colunas traseiras. Mantém pneus que rodam vazios por 80 km, mas há estepe temporário: menos 155 litros no porta-malas.


MOTOR 4-cilindros de 2 litros continua ponto alto do Série 3, agora com 258 cv e 40,8 kgfm, sendo este mais bem distribuído. O sedã ficou 60 kg mais leve; 0 a 100 km/h, 5,8 s. Sistema a bordo de inteligência artificial aprende com hábitos do motorista. Tela multimídia de 10,25 pol. e total de sete câmeras (externas e interna). Preços de R$ 219.950 (330i Sport) a R$ 269.950 (330i M Sport).


NOVO Chevrolet Camaro teve preço anunciado este mês. Cupê por R$ 315.000, cerca de 5% mais caro que o Mustang. Principais destaques, suavidade do motor, apesar do torque brutal de 62,9 kgfm, e câmbio automático de 10 marchas. Rodas de 20 pol. (pneus run flat) são bastante sensíveis a buracos. Visibilidade periférica exige adaptação cuidadosa do motorista.

MAU USO das redes sociais leva às falsas dicas, impulsionadas pela boa fé das pessoas. Faz quase um ano que se encaminha “recomendação” para utilizar óculos escuros em noites chuvosas para melhorar visibilidade noturna. Além de afrontar o bom senso, pode levar a uma situação de alto risco. Nunca deve se reenviar e, além disso, avisar ao remetente a falsidade.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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