Repensar o negócio [Alta Roda]


O mundo mudou nos últimos 100 anos ao ampliar tremendamente a capacidade de mobilidade do ser humano e possibilitar locomoção de maneira rápida, confortável e livre. Agora, o automóvel começa se tornar vítima neste processo inovador e disruptivo, que a própria indústria criou.


Em cenário cada vez mais conectado e integrado, os carros poderão deixar de ser o ponto focal da mobilidade e se tornar apenas mais um elemento em uma plataforma bem maior e dinâmica para atender necessidades multifacetadas dos consumidores. Esta é a previsão de pesquisa, publicada este ano, pela consultoria Ernest & Young (E&Y) ao abordar a remodelação deste setor produtivo.

O estudo destaca que, apesar dos enormes avanços tecnológicos refletidos nos atuais veículos, há um processo em curso de descolamento da vanguarda na inovação. Na opinião da consultoria, a consolidação do negócio obrigou os fabricantes a encarar grandes mudanças administrativas, nos seus processos e na forma de atender a novas demandas.

“É necessário que essas empresas, com alta confiabilidade no mercado, não tenham medo de fazer diferente e se conscientizem de que só alcançarão êxito se enfrentarem antigos modos de operação, repensando seu modelo de negócio urgentemente”, avalia Rene Martinez, sócio da E&Y e encarregado por análises da indústria automobilística.

A pesquisa identificou cinco desafios para transformar problemas em oportunidades. Exigirão mudanças radicais sobre a maneira de como costumam ver os clientes, os parceiros de negócio (entre os principais suas redes de concessionárias), os funcionários e, principalmente, a si mesmos.

O primeiro desafio se refere à inovação e, para isso, é necessário novo modelo de negócio. Segundo o levantamento, poucas companhias do setor mostram abordagem objetiva no desenvolvimento e avaliação de novas ideias e propostas. Há necessidade de revolucionar o seu próprio negócio.

O segundo desafio refere-se à conectividade. O cliente quer ser ouvido. As novas gerações estão acostumadas a serviços móveis “sob demanda”. O problema, agora, é desenvolver relacionamento contínuo com o consumidor e criar produtos e serviços personalizados. Fundamental aprimorar a capacidade de interação. Será necessária colaboração externa, mais uma dificuldade, pois por seu tamanho a indústria automobilística estabeleceu uma relação muito rígida com o mercado e seus parceiros. A nova indústria da mobilidade requer colaboração ampla envolvendo todos os participantes.

Atrair novos talentos, de outras áreas, também não é fácil. Pesquisa com jovens profissionais de tecnologia indicou que estes não veem o setor automobilístico como inovador e, por isso, existe baixo interesse em trabalhar nele.

Porém, segundo o estudo, a indústria precisará atrair especialistas em inteligência artificial e cientistas de TI para se adequar à remodelação da mobilidade. E isso leva ao quinto desafio: deixar de lado métodos operacionais desatualizados. É necessária ruptura com a velha tradição de apenas alavancar antigos processos operacionais e sistemas. Assim, além de criar novas unidades de negócio para manter a competitividade, deverão ser desenvolvidos modelos condizentes.

E&Y é uma consultora conceituada, mas esse “caminho das pedras” já vem sendo seguido há algum tempo por quase todos os atores do setor. Constatável por qualquer observador mais atento.


Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).


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