Nissan Leaf 2023: nosso test-drive com o hatch elétrico!

Texto e Fotos | Júlio Max, de Teresina (Piauí)

Completando treze anos em 2022, o Auto REALIDADE surgiu na internet praticamente ao mesmo tempo em que era revelada a primeira geração do Nissan Leaf, em 2009. No ano seguinte, a marca começou a expor o hatch elétrico também no Brasil, em eventos como o Inova Show: na época, nós chegamos a dar uma voltinha no modelo que representava o futuro do automóvel. Pois bem: tudo indica que o futuro daquela época já chegou. Afinal, o Leaf já é vendido regularmente no nosso País desde 2019 e, ao longo deste ano, nós do Auto REALIDADE já estivemos ao volante de quatro veículos elétricos. Ou melhor, cinco, pois agora é hora de dar uma volta com o Leaf 2023, que chega com novidades interessantes.

Nosso primeiro contato com o Leaf de segunda geração ocorreu há poucos meses, no final do mês de maio deste ano. Naquela época, a Nissan do Brasil convidou o Auto REALIDADE para fazer um percurso de aproximadamente 230 quilômetros pelas estradas de Pernambuco com o elétrico, que, três anos atrás, era vendido em apenas sete concessionárias no País inteiro. A partir de 2021, 44 autorizadas passaram a trabalhar com o hatch, e os planos de expansão continuam. Hoje, são cinquenta e uma concessionárias aptas a comercializar e prestar assistência técnica para o modelo.

Pouco tempo depois, em julho, a Nissan anunciou que o ano-modelo 2023 do Leaf estaria disponível em todo o Brasil. O hatch passou por uma reestilização leve, que dá um novo ar à carroceria estreada em 2017. Na dianteira, o cromado da grade superior em formato de V foi eliminado e o símbolo da Nissan foi atualizado (em nosso País, o elétrico é o primeiro modelo da marca a ter o novo logo). O fundo com estampas geométricas em azul deu lugar a uma superfície em cinza-escuro que revela paralelogramos e hexágonos por baixo da capa transparente. O para-choque dianteiro é o mesmo. No conjunto óptico, composto por luzes de LED nos fachos baixo, alto e para a iluminação de posição (mantendo lâmpadas halógenas para os piscas e para as luzes de neblina), a única novidade foi a adoção de máscaras escurecidas na região que circunda os projetores de luz. 

Permanece idêntica a abertura dianteira com iluminação para conectar os carregadores, mas agora ela conta com a entrada do tipo 2 de sete pinos no padrão europeu (IEC 62196), mais comum nas estações de recarga pelo Brasil. Foi mantida simultaneamente a entrada do tipo 1 para carga (com tampa na cor preta).

Lateralmente, os logotipos "Zero Emission" na parte inferior das portas dianteiras foram suprimidos e o modelo 2023 estreia as novas (e polêmicas) rodas de liga leve de 17 polegadas, que mantiveram os pneus 215/50 Goodyear EfficientGrip Performance. Este ângulo evidencia o contraste de cores da carroceria: o Preto Premium, aplicado ao teto, colunas, aerofólio e capas dos retrovisores, convive com a tonalidade Cinza Shark (que estreou na Frontier PRO-4X).

Na traseira, as mudanças incluem a atualização do logo da Nissan, a supressão do emblema "Zero Emission" na tampa traseira e a eliminação do friso azul no para-choque - agora ele vem pintado na cor cinza. Há ainda alterações no formato dos defletores de vento nas caixas de roda e no difusor traseiro; o aerofólio da tampa do porta-malas também ficou ligeiramente diferente. As caixas de roda traseiras, aliás, são acarpetadas.

Por dentro, as atualizações incluem novos logotipos no volante e na chave, retrovisor interno "virtual", sistema de som Bose "Energy Efficient Series" (com dois tweeters de uma polegada, dois alto-falantes de 6,5 polegadas nas portas dianteiras, dois alto-falantes de 5,25 polegadas nas portas traseiras, um amplificador e um woofer de 4,5 polegadas) e eliminação do botão que permitia desativar o som de alerta para pedestres (VSP, na sigla em inglês), bipe que avisa aos transeuntes sobre a presença e movimentação do veículo em baixas velocidades.

Em termos de acabamento, o hatch elétrico dispõe de revestimentos em material sintético nos bancos e no volante. Este material também está presente em faixas dos forros de porta (dianteiros e traseiros) e da área central do painel. Detalhes azulados estão presentes nos bancos e nos tapetes. Além disso, o modelo também possui forro de teto moldado em tecido.


O volante é revestido de material sintético com costuras azuis e possui estilo semelhante ao de Versa e Kicks em suas versões mais completas. Com coluna de direção ajustável manualmente em altura, este volante traz base achatada e comandos de operação do computador de bordo, atalhos de som, telefone e comandos de voz, além dos botões para utilizar o controlador de velocidade de cruzeiro adaptativo, que permite selecionar entre três níveis de distância do automóvel à frente.


O quadro de instrumentos é composto pelo velocímetro analógico com escala até 180 km/h na parte direita e por uma tela colorida de 7 polegadas à esquerda, de forma similar às versões mais completas de Kicks e Versa. Ao ligar a ignição, o ponteiro do velocímetro gira até o fim. Para o modelo 2023, uma nova animação com quadrados se unindo é exibida. As palavras e frases nos instrumentos são mostradas em português.


A tela do Leaf mostra, entre outras informações: indicador de energia (uma barra semicircular exibe o consumo de energia instantâneo do motor elétrico; a barra azul vai diminuindo quando a energia da bateria de Li-íon está sendo demandada, e seu tamanho aumenta quando há energia sendo fornecida para a bateria pelo sistema regenerativo de freios), informações de áudio, consumo médio e instantâneo de energia, histórico do gasto de energia, gráficos dos assistentes de condução, indicação dos alertas ativos (alerta de colisão frontal, aviso de saída da faixa de rodagem e alerta de veículos em pontos cegos), velocímetro digital (acompanhado das informações de som), pressão dos pneus (exibida com o veículo em movimento), indicação do nível de bateria (com estimativas de tempo de recarga para os 25%, 50%, 80% e 100%), temperatura da bateria, capacidade da bateria e configurações do veículo.


Este monitor também exibe aviso de porta ou tampa traseira aberta, relógio, temperatura externa, hodômetro total e distâncias percorridas A e B. Ao desligar o veículo, surge um indicador que estima o horário em que o veículo será totalmente carregado com a última fonte de energia conectada e exibe se estão programados o temporizador de carregamento e a climatização da cabine. Na região do painel logo abaixo dos instrumentos, no canto esquerdo, há botões para ajustar o brilho dos instrumentos e resetar as informações do computador de bordo. Uma luz-espia verde com o ícone de um carro acompanhado de uma seta de duas pontas indica que o Leaf está ligado. 


A haste dos faróis conta com as posições "Auto" (de acendimento automático das luzes), luzes de posição ligadas e faróis baixos ligados. O elétrico dispõe da comutação automática do farol alto: acima de 40 km/h, o Leaf é capaz de reduzir a luz do facho alto para o baixo caso sejam detectadas luzes em sentido oposto. Outro destaque é a regulagem automática da altura do facho dos faróis. O elétrico também dispõe da função Friendly Lighting, nome mais pomposo para a temporização do acionamento dos faróis (popularmente conhecido como follow me home). As luzes externas podem permanecer acesas entre 30 segundos e 2 minutos após o desligamento do veículo (com a haste na posição Auto), conforme a seleção feita pelo motorista ao puxar a alavanca de luzes em sua direção. Ao dar um leve toque, sem acionar a seta até o clique, as luzes indicadoras de direção piscam 3 vezes. Por esta haste também é possível acender os faróis e a lanterna de neblina. Já a alavanca dos limpadores incorpora a posição Auto, de funcionamento automático. O sensor de chuva pode ter a intermitência de seu funcionamento ajustada.

O sistema multimídia conta com tela sensível ao toque de 8 polegadas e espelhamento de tela de celular através do Android Auto e Apple CarPlay (sempre com cabo), além de rádio AM/FM, CD e MP3 Player. A interface do sistema é muito semelhante à presente nos demais modelos atuais da Nissan, com fundo azul e ícones na base da tela para acesso a menus. Além disso, o sistema operacional da central multimídia pode ser atualizado, desde que o carro esteja conectado a uma rede Wi-Fi de internet. Pela tela também é possível visualizar as imagens das câmeras que formam uma visão de 360 graus em torno do veículo. Esta visão "aérea", exibida no canto direito da tela, pode dar lugar à visão da câmera embutida no retrovisor direito, que facilita verificar o quão as rodas do lado direito estão próximas da calçada. A câmera em destaque pode ser a frontal ou a traseira, dependendo da posição de câmbio engatada, e exibe linhas de guia. O Leaf, assim como as versões mais completas de Kicks e Frontier, dispõe do detector de objetos em movimento, que destaca de qual direção está se aproximando uma pessoa ou um veículo.

Com zona única de temperatura e tela integrada, o ar-condicionado automático digital do Nissan Leaf regula a temperatura entre 16 e 30º C (de um em um grau Celsius). Tanto os bancos dianteiros quanto os bancos laterais traseiros são aquecíveis em dois níveis (Lo/Hi). Abaixo dos controles de ar, há um aviso luminoso que informa sobre a ativação (ou não) do airbag do passageiro dianteiro. Alternado pela lâmina da chave presencial, o switch on/off desta bolsa inflável fica dentro do porta-luvas (que é iluminado e dispõe de boa capacidade).

O console central integra o botão de partida, as entradas USB e auxiliar, os botões de aquecimento dos assentos dianteiros e uma tomada de 12 Volts. Mais abaixo há um porta-objetos aberto e bem inclinado, que pode receber o celular. A alavanca de câmbio lembra um joystick e dispõe das posições Parking (acionada por botão no pomo), Ré, Neutro, Drive e B - esta última, acionada da mesma forma que o Drive, prioriza o freio regenerativo. Sem a necessidade de uma alavanca de freio de mão, o Leaf traz um pequeno porta-objetos aberto (útil para acomodar a chave) e dois porta-copos, ambos com fundo de plástico. Mais atrás existe um apoio de braço de formato assimétrico (mais prolongado do lado do motorista), revestido de couro e com uma trava que revela um porta-objetos (também de plástico rígido).


A parte esquerda do painel contém um agrupamento de botões. O comando da porção superior esquerda serve para destravar a portinhola dianteira de recarga. Outro botão, ao lado direito, permite acessar, pelo quadro de instrumentos, o temporizador de recarga, uma funcionalidade especialmente útil para ativar a corrente elétrica somente em horários em que a tarifa de eletricidade tiver valor mais baixo e que ajuda a destravar a estação de recarga para que ela possa ser utilizada por outro veículo eletrificado. Pelo timer também é possível programar um horário para ligar o ar-condicionado do veículo. Há ainda o botão que permite verificar pela tela do computador de bordo as assistências de condução ativas.


A chave presencial do Leaf, agora com o novo logo da Nissan, é praticamente idêntica à dos outros modelos da marca com funcionamento pela presença. A principal diferença é que, além dos usuais botões para travamento e destravamento das portas, há um terceiro comando que, ao ser pressionado por mais de um segundo, destrava a portinhola frontal para carregamento. Embutida na chave também há uma lâmina metálica para ser utilizada caso necessário.


Os para-sóis dispõem de espelhos com tampas, porta-documentos e iluminação. Há ainda quatro alças móveis de teto (inclusive para o motorista) e dois pontos de iluminação: dois focos para motorista e passageiro na dianteira, além de uma luz em posição central.


Retangular, o retrovisor interno pode atuar como um espelho comum ou então transmitir imagens de uma câmera na parte traseira. Para alternar entre as duas formas de visualização, basta puxar ou empurrar a alavanca central na parte inferior. A imagem da câmera pode ter o brilho alterado e ser deslocada para cima/baixo, para a esquerda ou direita e até ter o idioma alterado. Embutido neste retrovisor há um foco de iluminação, que pode ser desligado.


A porta do motorista concentra os botões que comandam os retrovisores elétricos (que dispõem de rebatimento elétrico e lentes aquecíveis, para desembaçamento) e os vidros elétricos das quatro portas (só a janela do condutor dispõe da função um-toque para baixo). Curiosamente, há botões das travas elétricas das portas tanto no forro do motorista quanto do carona dianteiro. 


Com a ignição ligada, ficam acesos os botões de ajuste e rebatimento dos retrovisores, o botão do vidro elétrico do motorista, bem como os botões no volante, no lado esquerdo do painel, no sistema multimídia, no ar-condicionado e as indicações das posições de câmbio, e-Pedal e modo Eco.


Os bancos dianteiros "Zero Gravity" possuem ajustes totalmente manuais, com alavanca para o motorista ajustar a altura de seu assento. Os cintos dianteiros são ajustáveis em altura e possuem pré-tensionadores. Um detalhe pouco usual entre os automóveis disponíveis no Brasil é o fato do banco do passageiro dianteiro também dispor de fixações Isofix e Top Tether para cadeirinhas infantis.


Na traseira, o encosto do banco é bipartido (na proporção 60/40), e pode ser rebatido para a frente ao se puxar dois pinos. Há pequenos ganchos que servem para guardar o cinto quando for necessário rebater um dos encostos do banco de trás, além de dois pontos de fixação Isofix e Top Tether para cadeirinhas. Atrás, as alças de teto incorporam pequenos ganchos fixos, capazes de suportar até um quilo. Os vidros elétricos descem até praticamente o final.


O espaço para cabeça e pernas é bom para dois adultos e há dois porta-revistas, mas a pessoa que se sentar ao meio terá que conviver com o elevado ressalto do assoalho, com uma peça plástica escondendo o acesso às baterias.


O porta-malas conta com a boa capacidade de 435 litros e dispõe de iluminação. Nas laterais há espaços com redinhas para alojar a bolsa onde os cabos de carregamento ficam guardados. O estepe temporário do Leaf fica do lado de fora do veículo sob o assoalho, com roda de 16 polegadas e pneu 125/90. O forro da tampa possui um recuo no canto direito para ajudar a fechá-la. Curiosamente, este acabamento plástico da porta traseira possui coloração bege, tonalidade bem mais clara do que o restante da forração do porta-malas em preto.


O pacote de itens de assistência à condução abarca as principais tecnologias de proteção. O controlador de velocidade de cruzeiro adaptativo reduz automaticamente a velocidade estabelecida caso seja detectado um veículo mais lento à frente, visando manter uma distância segura. Já a frenagem automática de emergência com alerta de colisão frontal atua quando é detectada uma situação de risco iminente de colisão à frente. O sistema inicialmente emite um alerta visual e sonoro ao motorista. Caso o condutor não reaja adequadamente, o Leaf pode frear de forma autônoma de maneira parcial ou até total, evitando ou mitigando as consequências de uma colisão. 


Há ainda o alerta de saída da faixa de rodagem, que vibra o volante e emite um alerta nos instrumentos caso o motorista ultrapasse a pista demarcada sem acionar a seta. O alerta de veículos em pontos cegos informa ao motorista sobre a presença de veículos na região lateral-traseira, acendendo luzes alaranjadas nas lentes dos retrovisores externos, e emite um apito caso o motorista acione a seta na direção em que um veículo está próximo. Já o alerta de tráfego cruzado traseiro funciona em manobras de marcha-a-ré, indicando de forma sonora e visual sobre a passagem de veículos atrás do Leaf, de forma similar ao monitor de pontos cegos.


Por fim, há a tecnologia e-Pedal, que permite a condução somente com o pedal do acelerador na maior parte do tempo. Isto ocorre porque, quando este modo é ativado por um botão no console, a desaceleração do veículo se torna mais intensa para ajudar na regeneração de energia. Só é preciso pisar no freio em casos quando for necessário parar com mais urgência. Hoje, boa parte dos automóveis elétricos dispõem de algum modo de condução em que é possível conduzi-lo sem acionar o pedal do freio em praticamente todas as situações.


Segundo a Nissan, o Leaf é capaz de rodar 272 km no ciclo do Inmetro e no norte-americano EPA (com 50% de condução na cidade e 50% de percurso na estrada) e até 389 km no ciclo europeu NEDC (com 70% de rodagem na cidade e 30% na estrada). O motor elétrico possui rendimento de 110 kW (equivalentes a 149 cavalos) disponíveis entre 3283 e 9795 rpm, enquanto o torque de 32,6 kgfm está presente de 0 a 3283 rpm. A bateria de 40 kWh, de íon-lítio laminada, passou a ter maior capacidade de armazenamento em relação ao Leaf antigo, sem necessidade de ficar maior. A tração é dianteira e a direção é elétrica com assistência variável.


O Leaf possui suspensão dianteira independente (do tipo McPherson e com barra estabilizadora) e utiliza atrás o eixo de torção, também acompanhado de barra estabilizadora. Já os freios usam discos dianteiros e traseiros ventilados, algo raro entre os automóveis deste segmento. Assim como grande parte dos automóveis com motores a combustão, o Leaf dispõe de bateria de 12 Volts (e 50 Ah), que fornece energia para a central multimídia, as luzes externas/internas, os limpadores do para-brisa, etc. Já a bateria de íons de lítio, com cerca de 400 Volts, fornece energia para o motor elétrico que impulsiona o veículo e ainda recarrega a bateria de 12 Volts.


Em termos de segurança, o Leaf conta de série com seis airbags (frontais, laterais embutidos nos bancos dianteiros e de cortina), alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência, alerta de fadiga do motorista, monitoramento de veículos em pontos cegos, alerta de saída involuntária da faixa de rodagem, alerta de tráfego cruzado traseiro, cintos de segurança de três pontos para todos os passageiros, controles de tração e estabilidade, controle inteligente de freio-motor (Intelligent Engine Brake), controle inteligente em curvas (Intelligent Trace Control), estabilizador de carroceria (Intelligent Ride Control), freios ABS com distribuição eletrônica da força de frenagem (EBD) e assistência em frenagens de pânico (Brake Assist), sinalização de frenagem de emergência, monitoramento da pressão dos pneus e assistente de partida em ladeiras.

Hoje, o Leaf tem preço a partir de R$ 298.490, caso se opte pela carroceria na cor Preto Premium (sem custo adicional). Ao escolher o elétrico da Nissan nas outras cores disponíveis (Vermelho Magnético, Branco Diamond e o Cinza Shark do carro do nosso test-drive), o valor total passa para R$ 301.340. Qualquer que seja a cor escolhida, o teto, as colunas externas, as capas dos retrovisores e o aerofólio serão sempre pintados na cor Preto Premium. O Leaf tem garantia de 3 anos sem limite de quilometragem e 2 anos de assistência técnica 24 horas, enquanto o conjunto de baterias possui garantia de oito anos ou 160 mil quilômetros.

Impressões ao dirigir

Para dar a partida no Leaf, com o pé apertando o freio e a chave presencial dentro do carro, basta apertar o botão de partida e verificar se houve o acendimento da luz-espia verde com o ícone do carro com a seta de duas pontas (que indica que o elétrico da Nissan já pode ser conduzido). Depois, libera-se o pedal do freio de estacionamento com o pé esquerdo e move-se a alavanca de câmbio para a posição Drive. Quando a partida é feita, a sensação é de que o veículo continua somente com a ignição ligada. E é possível pensar que o pedal do freio de estacionamento vai atrapalhar o posicionamento do pé esquerdo do motorista, mas na verdade é possível repousar bem o pé no apoio à esquerda do assoalho. Com o tempo, acionar o freio "de pé" se torna quase tão natural quanto usar o freio de mão.

À princípio, o manejo da alavanca de transmissão pode parecer complicado; no entanto, com o uso, ela se revela bem prática. Operada de forma shift-by-wire, basta segurar a alavanca com dois dedos (e não com toda a mão, como é mais comum) para movê-la às direções desejadas até que a posição de câmbio seja alcançada. Em um carro elétrico, não se sente a necessidade das marchas de uma transmissão comum, porque o veículo vai sempre ganhando velocidade de forma linear quando o acelerador é pressionado, graças ao torque disponível instantaneamente. 

Em baixa velocidade, o silêncio é tanto que às vezes é possível ouvir o barulho dos pneus. Mas, em condições de estrada, o barulho de vento, o ruído (baixo e agudo) do motor elétrico e o som do ar-condicionado em funcionamento fazem com que o nível de ruído do Leaf na cabine não fique tão distante assim de um carro a combustão em rotação baixa e com bom isolamento acústico.

Uma das grandes curiosidades estava na experimentação do retrovisor interno por câmera. Precavido, preferi de início usar somente o espelho tradicional (cujo ângulo de visão é ligeiramente maior do que um retrovisor tradicional). Mas o "espelho virtual" amplia um pouco mais a visão traseira para os lados, com a vantagem de não aparecerem os encostos de cabeça ou as colunas traseiras. A comutação do espelho virtual para o tradicional é fácil como alternar entre as posições dia/noite de um retrovisor comum.

Apesar de não dispor de ajustes elétricos, o banco do motorista dispõe de bons apoios para o corpo (especialmente lombares). O volante também se destaca pela ergonomia de seu formato, e a assistência da direção é bem agradável em todas as situações, com certo peso mesmo em baixa velocidade para não ficar imprecisa ("boba"). A posição do condutor só não é totalmente perfeita por conta da coluna de direção não ajustar em profundidade.

O conjunto de suspensão foi um dos aspectos que mais surpreendeu na condução do Leaf. Considerando que é um carro importado (vem de Sunderland, na Inglaterra), o nível de absorção de irregularidades do piso é muito bom e lembra bastante o de um veículo pensado para o Brasil, como o Kicks. Para se ter uma ideia, sua altura em relação ao solo, de 15,5 centímetros, é maior que a do Versa (14,3 cm). Nos buracos, em nenhum momento o Leaf chegou a "bater seco".

A estabilidade da carroceria em curvas é exuberante, mesmo em velocidades altas. Mérito do centro de gravidade baixo da carroceria (com o posicionamento das baterias no assoalho), dos cuidados para melhoria da aerodinâmica e dos pneus largos. Mesmo com o pé embaixo no acelerador, o Leaf faz curvas muito bem.

A posição de dirigir lembra a do Versa: o motorista fica em posição mais baixa do que nos SUVs. Em termos de visibilidade, o modelo agrada, principalmente pelo para-brisa amplo, pelas janelas fixadas às colunas dianteiras e pelos retrovisores bem-dimensionados. Os espelhos externos acendem luzes alaranjadas quando algum veículo é detectado na região de pontos cegos. Se mesmo assim o motorista der seta indicando que vai se deslocar para a mesma faixa do automóvel no ponto cego, o hatch emite um alerta sonoro para advertir que ainda não é a hora de mudar de faixa.

Em trechos onde os pneus passavam sobre as faixas da pista, o volante vibrou para alertar o condutor de que ele deve manter a atenção, de modo similar ao Kicks Exclusive. Diferentemente das versões mais completas da Frontier, que podem reduzir a velocidade de forma autônoma para mitigar a saída de pista, o elétrico não dispõe de um sistema mais complexo que realize correções na direção para evitar a invasão da outra faixa. De todo modo, é um alerta que pode ser plenamente percebido até pelos passageiros.

Em compensação, o Leaf traz um dispositivo muito útil que nenhum outro Nissan vendido no Brasil dispõe: o controlador automático de velocidade e distância do veículo à frente. Com ele, é possível estabelecer três níveis de distanciamento do automóvel adiante, e programar uma velocidade para o Leaf andar. Caso o veículo da frente esteja mais lento, automaticamente o Nissan elétrico vai diminuir o seu ritmo, a fim de evitar uma colisão. Até mesmo no nível mínimo de distância do veículo à frente, o Leaf mantém um afastamento adequado. Em nosso teste, o recurso funcionou admiravelmente bem, detectando até mesmo motos, e foi capaz de manter sua operação até pouco abaixo de 30 km/h, ocasião em que o piloto automático é automaticamente desativado e o controle da aceleração retorna totalmente para o motorista.

O recurso mais interessante é o e-Pedal, que promove uma desaceleração mais forte assim que o motorista libera o pedal do acelerador. Dependendo do poder de antecipação do motorista no trânsito, é possível "esquecer" do pedal do freio e dirigir apenas pisando no acelerador (é bom que se diga que o freio continua a poder ser acionado a qualquer momento). Em velocidades urbanas, o sistema é bem útil e permite uma parada completa do Leaf, além de ativar automaticamente o Stop Hold, que aciona o freio hidráulico e permite que o veículo permaneça freado mesmo com o câmbio em D ou B. Se o motorista desafivelar o cinto e abrir sua porta, o câmbio é automaticamente posto na posição Parking (antes, o quadro de instrumentos avisa ao motorista para fazer isso). 

A desaceleração mais forte com o e-Pedal (principalmente com o câmbio em B), que pode chegar a 0,2 g, talvez assuste um pouco o motorista caso o pedal de acelerador for solto repentinamente. É preciso dirigir por algum período para se acostumar com o jeito que se tira o pé direito para desacelerar mais suavemente. Em compensação, mesmo com o Stop Hold ativado, o esforço do pé direito necessário para acelerar o carro é mínimo. Nas estradas, onde as desacelerações são menos constantes e é interessante que o veículo possa percorrer mais quilômetros de forma mais fluida, o e-Pedal se torna mais dispensável, mas pode continuar a ser usado para poupar o pedal do freio. 

Mas a modulação do pedal do freio deveria ser revista: é preciso pisar com mais força ao que estamos acostumados na comparação com outros modelos para conter de verdade o Leaf. A característica já havia sido notada em nossa experiência com o Leaf em Pernambuco e volta a se manifestar neste test-drive, com um carro menos rodado. Vale dizer que, com o câmbio em B, o veículo continua a se deslocar para a frente a cerca de 8 km/h, como um carro automático tradicional em Drive.

O modo Eco, quando acionado pelo botão no console, instantaneamente faz a autonomia estimada aumentar em alguns quilômetros no quadro de instrumentos e reduz as respostas do acelerador e a eficiência do ar-condicionado. Mesmo assim, o ímpeto do Leaf é tamanho que, até mesmo neste modo, os pneus podem cantar nas acelerações (mesmo com os controles eletrônicos ativados).

Em nossos testes, o Leaf ficou um pouco distante do dado de fábrica para a aceleração de 0 a 100 km/h (7,9 segundos) - excepcionalmente, fizemos o teste com duas pessoas a bordo, mas mantivemos todos os outros parâmetros: ar desligado, pista sem veículos, controles eletrônicos ativados, posição de câmbio Drive sem e-Pedal e cronometragem automática pelo app GPS Acceleration:

Aceleração de 0 a 100 km/h: 8,7 segundos
Retomada de 40 a 80 km/h: 4,4 segundos
Retomada de 80 a 120 km/h: 6,6 segundos 

Condições do teste
Temperatura externa: 31° C
Altitude (estimada): 61 metros
Nível de energia do veículo (estimado): 94% de energia
Pressão dos pneus: 32 psi (pneus dianteiros); 30 psi (pneu traseiro esquerdo), 31 psi (pneu traseiro direito)

Em nosso trajeto de 73,5 quilômetros, o nível de energia indicado pelo Leaf baixou de 100% para 67% - com a estimativa de que seria possível rodar mais 167 km sem o modo Eco acionado. O computador de bordo registrou a média de consumo de 17,1 kWh/100 km. No trajeto, feito quase totalmente sem uso do modo Eco, em algumas vezes o carro permaneceu ligado quando parado, para que o ar-condicionado permanecesse em funcionamento. O aparelho, aliás, foi fundamental para deixar o calor do B-R-Ó-Bró de Teresina do lado de fora da cabine - a temperatura externa chegou a 33º C no dia do test-drive.

Para concluir...

Como dissemos no começo desta matéria, o Nissan Leaf representa o futuro pensado há alguns anos. Afinal, hoje é possível adquirir (e recarregar) o carro elétrico em diversas partes do Brasil. Afastado dos futurismos exagerados dos carros-conceito, o Leaf está bem-integrado ao atual line-up de veículos da Nissan, conta com uma boa lista de equipamentos e seu desempenho é mais do que suficiente para o uso cotidiano. As mudanças da reestilização deram mais apelo ao modelo e não representaram custo adicional ao elétrico da Nissan. Porém, se você faz questão de um veículo com maior autonomia com uma carga, vale a pena experimentar o Chevrolet Bolt. Ele custa um pouco mais caro (R$ 329.000), mas gera ainda mais força e pode rodar 416 km pelo ciclo EPA.

Vem conferir a Galeria de Fotos do Nissan Leaf 2023!




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