Como virar o jogo [Coluna Fernando Calmon]



Entre as inúmeras frases de efeito criadas no mundo dos negócios está o termo BTR (De Volta à Corrida, na sigla em inglês). Esse termo se aplica bem ao esforço recente da Peugeot em mudar sua imagem no Brasil. A marca teve algo em torno de 2,5% de participação de mercado e caiu para menos de 1%. Hoje, ronda 1,2% ou metade do que já representou. Este cenário coincidiu com dificuldades financeiras da matriz na França, agora lucrativa, depois do controle tripartite das ações entre família fundadora, governo francês e chinesa Dongfeng.

A virada aqui começou pelo básico. Renovação de 70% das concessionárias, investimento em treinamento – em três anos se gastou mais que nos últimos 15 anos – e disponibilização de uma frota própria de 1.000 carros de reserva distribuída entre quase 100 pontos de venda. Ao mesmo tempo bateram na tecla: “Se o cliente não estiver satisfeito com o serviço ou atrasou a entrega, não paga.” Foi criado serviço de reboque para veículos de até oito anos de uso, em pane ou acidentado.

Agora apresenta a primeira revitalização do SUV compacto 2008. Mudaram para-choque dianteiro, grade, capô, logotipo do leão estilizado saiu do capô para a grade, DRL e rodas. A inspiração estilística veio do 3008, importado da França, que passou a oferecer versão de entrada por competitivos R$ 139.990. No 2008, o interior recebeu nova central multimídia, teto solar e ar-condicionado bizona. Neste caso, os preços se mantiveram nominalmente iguais de R$ 69.990 a R$ 99.990, o que significa queda real de preços. A empresa espera aumento de 30% nas vendas do modelo.


Faz, ainda, outro movimento ousado. Torna-se a primeira marca generalista no Brasil a aposentar totalmente a caixa manual. Tanto os motores de 1.600 cm³ de aspiração natural (118 cv/etanol) quanto o turbo (173 cv/etanol) só são oferecidos com câmbio automático de seis marchas.


Desde o lançamento do 2008, em 2015, apesar dos vários desmentidos da Peugeot, essa coluna antecipou que o motor turbo seria acoplado ao câmbio automático. Não havia empecilho técnico ao analisar o carro. Provavelmente, existia estoque elevado, a ser escoado, da anterior e sofrível caixa automática de quatro marchas. Para ajudar na decisão, o mercado brasileiro deu uma forte guinada e foi deixando de lado as caixas manuais. A marca francesa afirma oferecer o único SUV automático abaixo de R$ 70.000 para o público PcD.


O carro perde em espaço interno para seu irmão de arquitetura Citroën C4 Cactus e ganha no volume do porta-malas. No entanto, apresenta comportamento dinâmico um pouco melhor, em especial em arrancadas mais fortes com o motor turbo. Seu volante ligeiramente ovalado e de pequeno diâmetro permite experiência muito interessante, inclusive visão do quadro de instrumentos por cima da parte superior do aro.

ALTA RODA


FCA anuncia, na próxima semana, que terá motores turbo de três e quatro cilindros na sua gama Fiat e Jeep. Baseiam-se nos Firefly de 1 litro e de 1,33 litro para fabricação em Betim (MG). Serão motores sofisticados e disponíveis para 2020. O atual 1,75-litro de aspiração natural E-Torq (mais barato de produzir) continuará em linha ao menos até 2023 e também receberá atualizações.


PRIMEIRO carro elétrico da Jaguar, I-Pace, chega ao Brasil por R$ 437.000, incluídas revisões grátis nos cinco anos de garantia. Potência total de 400 cv (dois motores, um para cada eixo, tração 4x4) e nada menos de 69,6 kgfm lidam bem com o peso adicional das baterias de 90 kWh: acelera de 0 a 100 km/h em 4,8 s. Autonomia de 470 km, no ciclo WLTP, mais próximo da realidade.


USO prático do I-Pace, nas condições brasileiras de subidas e descidas, não deve garantir tanta autonomia. Há apenas 200 carregadores públicos no País contra 40.000 postos de combustíveis. Mas a Jaguar criou um sistema de navegação inteligente, capaz de cruzar as informações da rota desejada com a autonomia disponível para viagens mais descontraídas.


CHEVROLET Tracker Midnight, importado do México, segue a moda dos apliques pretos do logotipo às rodas. O desempenho do motor turbo (1,4 L, 153 cv) é o maior destaque deste SUV compacto. Suas dimensões limitam o espaço interno e o tamanho do porta-malas. Direção precisa, câmbio automático de seis marchas e suspensão bem acertada destacam-se.

PESQUISA feita na Alemanha pela Bosch revelou que há grande demanda para aplicativos de telefone celular substituírem as chaves tradicionais ao abrir/fechar o carro e desbloquear/bloquear a ignição. Entre as vantagens estão menos possibilidades de extravio, mais pessoas compartilharem o carro e a segurança em caso de furtos graças ao bloqueio remoto.

EMPERRADA há mais de dois anos no Contran, a vinculação do licenciamento anual à comprovação de atendimento a um eventual recall pode se tornar obrigatória. Pelo menos esta é a proposta tramitando na Câmara dos Deputados, de autoria de Juninho do Pneu (DEM-RJ). Apenas 40% dos proprietários, no máximo, atende aos recalls, uma ameaça à segurança.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

Comentários

Xracer disse…
Gosto muito da coluna do Calmon, pareceu-me interessante esses SUV da Peugeot e seu esforco em melhorar sua imagem e sua eficacia no pos-vendas no Brasil.