Já andamos: Nissan Kicks quer chutar a traseira de HR-V e Renegade



Fotos, vídeo e edição | Júlio Max, de São Paulo (SP)
Viagem à convite da Nissan

A ansiedade pela chegada do Nissan Kicks ao mercado brasileiro, para alguns (como nós do Auto REALIDADE), iniciou quando foi revelado o Kicks Concept no Salão de São Paulo em 2014 - um protótipo com soluções visuais comuns ao Extrem apresentado dois anos atrás. No início de 2016, o CEO Carlos Ghosn veio ao Rio anunciar a produção nacional do crossover, e os teasers começaram a ser veiculados, até que no início de maio, a imprensa especializada foi convidada a conhecer in loco o Kicks definitivo. Naquela ocasião, estávamos diante de um pré-série com praticamente todas as características do modelo de produção, mas envolto em alguns mistérios. O motor é mesmo o 1.6? Qual é a capacidade do porta-malas? E este conta-giros digital, como funciona? Estas e mais dúvidas foram relatadas no nosso grupo de amigos - agora, finalmente, poderemos responder em detalhes como é o Kicks SL, que a Nissan considera como lançamento mais importante já realizado desde seu estabelecimento no Brasil. Não por acaso, nosso mercado é o primeiro a receber o novo modelo - nem mesmo no México, onde é produzido, o Kicks está sendo comercializado.


Apesar dos plásticos pretos que circundam a parte inferior da carroceria, o Kicks (nome que significa "pontapés" em inglês, ou "sapatos", informalmente) está mais para urbano do que para aventureiro, ao estilo do Honda HR-V - não por acaso, seu arquirrival de projeto japonês. Os faróis têm assinatura luminosa em LED e formas que exploram a tridimensionalidade da carroceria, enquanto os faróis de neblina se integram às molduras do para-choque e a grade com aberturas ovais é adornada por um generoso aplique cromado em formato de "V". Na ponta do lápis, o modelo possui coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,345.



Na lateral, o efeito interessante é o teto que parece desmembrado da carroceria, por conta dos apliques pretos em todas as colunas das janelas. Outro destaque está no jogo de rodas de 17 polegadas, pretas com bordas diamantadas, com pneus 205/55 Continental ContiPowerContact (o estepe também possui roda de liga leve e as mesmas dimensões de pneu).



As lanternas possuem áreas côncavas e se estendem para a tampa do porta-malas - pena que o vão das peças nas extremidades seja muito grande. A abertura do porta-malas é feita pelo botão na régua acima da placa. No para-choque de trás, há uma moldura central inferior que segue a cor da carroceria. Já o aerofólio e as molduras que acompanham o vidro traseiro foram desenvolvidos visando melhorias na aerodinâmica. Robert Bauer (foto ao lado), chefe de design da Nissan nos EUA que esteve presente na apresentação, mencionou que, assim como as brasileiras, o Kicks também possui uma bela traseira...



O interior do Kicks reaproveita bem pouco dos Nissan atuais - na verdade, ele é quem cederá componentes para os mais recentes modelos globais da marca, como a nova geração da van Serena, que chega ao Japão em agosto. O volante tem base achatada e raios estendidos para acomodar os atalhos de som e computador de bordo. Ajustável em altura e profundidade - e sem o inconveniente do baque da gravidade que acomete outros modelos - esta direção possui boa pegada e tem assistência elétrica progressiva, o que a torna levinha em manobras (seu raio de giro é de 10,2 metros) e mais firme em velocidades maiores. É possível perceber que o Kicks teve detalhes pensados especificamente para os brasileiros: todos os vidros tem acionamento por um-toque e recurso anti-esmagamento e, ao segurar o botão de travamento na chave, as janelas esquecidas abertas fecham - algo raro de se ver em modelos de projeto asiático.



O quadro de instrumentos possui apenas o velocímetro como componente analógico - todas as outras informações são agrupadas na tela de 7 polegadas colorida e programável. Esta tela assume as funções de: conta-giros (apenas os números mais próximos ao ponteiro são clareados, e a conformidade do movimento da agulha virtual é praticamente a mesma da analógica), gráficos de consumo de combustível (exibindo média e econômetro), controle do chassi (falaremos sobre ele mais detalhadamente daqui a pouco), computador de bordo, informações do som, bússola, orientações do GPS e velocímetro digital - é tanta informação que, em nosso teste, nem chegamos a conferir detalhadamente como funciona cada modo...



A central multimídia com tela touchscreen de 7 polegadas também merece um parágrafo à parte. Com CD/MP3 Player, rádio, entradas USB e auxiliar, Bluetooth, acesso ao Facebook e pesquisa do Google, 4 alto-falantes e 2 tweeters, o sistema integra GPS com exibição de pontos de interesse (restaurantes, postos de gasolina, etc) e o sistema de visão em 360 graus: quatro câmeras (uma embutida no escudo frontal da Nissan, duas abaixo dos retrovisores e mais uma na tampa traseira) mostram o que se passa ao redor do carro. Um recurso complementar é o detector de objetos: quando veículos ou pessoas estão próximos, o visor correspondente mais próximo será indicado: quando se aproximar mais, aparecerão luzes verdes, amarelas ou vermelhas, e caso o objeto se aproxime pela traseira, também irá soar o apito do sensor de estacionamento.



Em termos de acabamento, o Kicks mistura elementos glamourosos com a simplicidade típica dos japoneses. Os bancos, painel e forros das portas contam com revestimentos de couro (mescla de material natural e sintético), na cor Preta (de série), Macchiato (que lembra o marrom do café) e Sand (uma cor creme), estas duas últimas por R$ 500 adicionais. O laranja berrante que adornava o Kicks que conferimos no Rio foi descartado no modelo de produção. As portas dianteiras trazem porta-moedas com tapetinhos de borracha, mas de resto predomina o plástico rígido. O forro de teto também é simplicista, de carpete (há rivais com revestimento em tecido).



O espaço para os ocupantes foi privilegiado, e quem senta na frente desfruta da tecnologia "Zero Gravity": em conjunto com a NASA, os engenheiros da Nissan buscaram desenvolver assentos mais ergonômicos e com boa densidade para encarar longas viagens. Depois de rodar mais de 300 quilômetros no modelo - tanto como motorista como no banco do carona - é possível dizer que é proporcionado um bom nível de conforto.



Atrás, o espaço também é bom para cabeça e pernas (mérito da distância entre-eixos de 2,61 metros, exatamente a mesma que o HR-V), e os três ocupantes contam com apoios de cabeça e cintos de três pontos. Nas laterais, há pontos de fixação de cadeirinhas ISOFIX. Também são itens de série no Kicks SL; ar-condicionado digital com ajuste automático de temperatura (de zona única e regulagem de meio em meio grau Celsius), acendimento automático dos faróis, ajuste de altura do banco do motorista, chave presencial I-Key, botão de ignição, dois pontos de iluminação no teto, três porta-copos no console central, espelhos nos para-sois, duas tomadas de 12 Volts, tapetes em carpete, volante e manopla de câmbio revestidos em couro, alerta sonoro de faróis acesos, travamento das portas a partir de 24 km/h, limpador de para-brisa dianteiro e traseiro com duas velocidades e controle intermitente variável, temporizador dos faróis, retrovisores elétricos com luzes de seta em LED, porta-revistas atrás dos bancos dianteiros, porta-objetos nas portas, abertura interna da tampa do tanque de combustível e detalhes metalizados no rack de teto e nas molduras laterais.



O porta-malas possui 432 litros, apenas 5 litros a menos que o HR-V. Neste quesito, o Renault Duster é o campeão, com seus 475 L, enquanto o Jeep Renegade segura a lanterna, com 260 litros. Com base plana, é fácil carregar e descarregar o porta-malas do Kicks, que pode ter a capacidade ampliada com o rebatimento parcial ou total do encosto do banco traseiro, além de trazer tampão dobrável e ganchos para fixação de objetos - cada um suporta 3,3 quilos. A tampa possui um recuo na parte direita para encaixar as mãos e fechar a tampa.



Um dos grandes mistérios girava em torno do conjunto motriz do Kicks: o motor 1.6 16v dá conta do recado? Sim! Mesmo sem ser o "estado da arte" em termos de tecnologia, o propulsor HR16DE Flex Start, com controle de abertura das válvulas continuamente variável, rende 114 cavalos a 5600 rpm e torque de 15,5 kgfm a 4000 rpm, seja com gasolina ou etanol. Aliado a ele está o câmbio automático continuamente variável XTronic CVT, agora com o recurso D-Step, que em retomadas mais ágeis efetua a troca virtual de marchas, e o modo Sport, ativado por um pequeno botão na alavanca.



Com esse conjunto, a Nissan assegura que o Kicks acelera de 0 a 100 km/h em 12,0 segundos e atinge a velocidade máxima de 175 km/h - na prática, o modelo mostra boa disposição para encarar as estradas, só arregando um pouco em subidas. É, portanto, ligeiramente menos ágil que o HR-V e significativamente mais disposto em relação ao Renegade. A explicação? O Kicks aproveita-se da plataforma V de March e Versa, que garante o peso-pena de 1142 quilos em ordem de marcha (pronto para pegar a chave e sair andando). Considere que um Renegade Longitude 1.8 automático pesa 1440 quilos, e as coisas começam a fazer sentido.



O Kicks também é inacreditavelmente econômico para um modelo de seu segmento: apenas o HR-V consegue ter nível similar de consumo na cidade, mas o Nissan é o rei da estrada. Os dados do Inmetro indicam 8,1 km/l com etanol e 11,4 km/l rodando com gasolina em circuito urbano; já em percurso rodoviário, os resultados são de 9,6 km/l (etanol) e 13,7 km/l (gasolina). Em nosso percurso, alcançamos a média de 14,0 km/l, com ar ligado e velocidades altas. Já a colega Ana Célia Aragão, do Motor Mais, superou a marca dos 18 km/l em alguns trechos e fechou o trajeto final com 14,6 km/l. Ou seja: mesmo com um tanque pequeno, de 41 litros, o modelo tende a apresentar uma boa autonomia.



Vale destacar a confiança que o Kicks transmite em seu rodar: apesar de ter a carroceria mais alta, o silêncio ao rodar impera (graças aos materiais utilizados no isolamento acústico interno) e a impressão é de guiar um hatch médio, graças a múltiplos recursos, como o estabilizador ativo da carroceria (Active Ride Control, que utiliza sensores de aceleração que detectam o movimento da carroceria e, assim, atuam no freio-motor e nos freios para estabilizá-la), o controle dinâmico em curvas (Active Trace Control, que controla o movimento da carroceria em curvas ou trocas de faixa por meio do sinal do sensor de aceleração, que identifica o movimento da carroceria e atua no freio-motor e nos freios em cada roda para reduzir o subesterço, mantendo o carro na trajetória), o controle dinâmico de chassi (Chassis Control) e o controle dinâmico de freio-motor (Active Engine Brake, que recebe o sinal do sensor de aceleração e da posição do volante, atuando no freio-motor para aumentar a segurança em curvas e descidas de serras). Não há recursos para encarar terrenos fora-de-estrada, até porque o público-alvo deste segmento é essencialmente urbano. A distância em relação ao solo é de 20 centímetros, e a capacidade de imersão, de 45 cm. E não, também não foi confirmada a intenção de produzir uma versão de alta performance Nismo...



A suspensão dianteira é do tipo McPherson na frente, 300% mais rígida em comparação a outros modelos, e atrás é do tipo eixo de torção, com travessa de maior rigidez e nova estrutura de isolamento.



Em termos de segurança, além das mencionadas fixações ISOFIX, o Kicks traz airbags frontais, laterais dianteiros e de cortina, além de controles eletrônicos de estabilidade e tração (com botão de desativação), cintos dianteiros com ajuste de altura, alarme perimétrico, freios ABS (a disco na frente e a tambor atrás, com assistência em frenagem de pânico) e o auxiliar de partida em subidas (Hill Start Assist), que atua sobre o freio de mão (por cerca de 5 segundos) para evitar que o carro desça nas ladeiras.



Agora, um questionamento pertinente: Por R$ 89.990, vale a pena? A princípio, é um valor alto para um crossover derivado de carro compacto, com basicamente o mesmo conjunto mecânico do March SV CVT (que custa R$ 54.990...). Mas se formos colocar na balança que o HR-V equivalente (EXL) custa R$ 99.200 e o Renegade Limited Edition começa em R$ 97.490, o Nissan já larga na frente no quesito custo-benefício.



Consideremos que os valores de revisão incluem mão-de-obra e estão entre os mais baixos do segmento: aos 10 000 quilômetros, pagam-se R$ 419; aos 20 000 km, R$ 579; na revisão de 30 000, o valor é de R$ 419; aos 40 000 km, R$ 579; aos 50 000 km, R$ 419, e aos 60 000, R$ 579.



Os preços de boa parte dos componentes mais trocados pelas seguradoras também são competitivos: um farol sai por R$ 585, um amortecedor custa R$ 219, o para-choque tem preço de R$ 890, um disco de freio custa R$ 120, uma lanterna sai por R$ 225 e as pastilhas de freio, por R$ 199. Some os 3 anos de garantia e 2 anos de Way Assistance (auxílio 24 horas em caso de emergências), e o conjunto é bastante equilibrado a favor do novo modelo.



O Nissan Kicks só não será figurinha carimbada nas ruas brasileiras (como são HR-V e Renegade) por dois aspectos: primeiramente por ser vendido em versão única (completa e mais cara), e especialmente por ser trazido de Aguascalientes (México), o que faz a montadora depender das limitadas cotas de importação, parcialmente ocupadas com o Sentra. A perspectiva é de que o Kicks seja fabricado em Resende (RJ) no início de 2017, possivelmente em janeiro, e passando a ser oferecido em versões mais acessíveis. Para viabilizar a produção nacional, a fábrica da Nissan passará a operar em segundo turno, contando com 600 novos empregos e investimentos de R$ 750 milhões para treinamentos e aquisição de novas máquinas e robôs. As primeiras unidades do Kicks no Brasil terão as chaves entregues em uma caixa similar a um porta-joias.



O Kicks estará disponível a partir do dia 5 de agosto nas concessionárias, nas cores Branco Diamond, Prata Classic, Cinza Grafite, Preto Premium e Cinza Rust, sendo que o teto pintado na cor Sunset Orange (R$ 2500) é exclusividade combinada ao tom Cinza Grafite (e aos modelos Rio 2016). O interior Macchiato está restrito aos carros na cor branca ou Cinza Grafite; já a tonalidade Sand está unicamente disponível para os modelos na cor preta ou Cinza Rust.



Estarão disponíveis na rede de concessionárias o kit de moldura de para-choques, friso de porta, alarme, trava de estepe, calha de chuva, tapete de carpete e o box organizador. Até novembro, chegarão spoilers frontais, laterais e traseiros, aerofólio e barras de teto, racks para bicicleta e protetor do cárter. Os acessórios têm um ano de garantia e podem ser financiados junto com o Kicks na hora da compra.


As primeiras mil unidades da série Rio 2016 esgotaram em poucos dias - ao todo, mais de 1800 pessoas participaram da pré-venda do Kicks, ainda que nenhuma delas tenha dirigido o modelo, e outras sequer tido contato pessoal com ele. De 2010 até este ano, o mercado de utilitários compactos cresceu de 1,7% para 9,8% dos automóveis brasileiros. E só em Teresina (PI), 45 unidades do modelo foram reservadas. É um indicativo de que, potencial para vender bem, o Nissan tem.

Dê uma olhada na Galeria de Fotos do Nissan Kicks!


Comentários

Jefferson disse…
Realmente é um lindo Suv, o Hrv e Renegade que se cuidem. Na verdade quem deve se cuidar mesmo é o Ecosport e o Duster, que estão ficando para traz... Dá pra saber o preço do seguro Kicks aqui http://segurodecarrovalor.com.br/quanto-custa-seguro-kicks-2017-preco/
Pops disse…
Show!! Já comprei o meu, pego está semana!