Volkswagen Gol: a análise do carro mais vendido do Brasil na versão 1.6 8v

Texto e fotos | Júlio Max, de Teresina - PI
Colaborou nesta matéria | Christian Almeida

Se um viajante do tempo viesse do futuro para contar há exatamente um ano atrás que a produção do Volkswagen Gol seria encerrada, poucas pessoas acreditariam. Mesmo com o decorrer dos anos, o hatchback era um daqueles carros que pareciam "imorríveis" - afinal, ele foi líder de vendas entre os automóveis novos no Brasil por 27 anos e, em 2022, chegou a ser o carro mais emplacado do País em julho. Mesmo sendo um dos modelos mais vendidos da história da Volkswagen, a marca decidiu que havia chegado a hora do seu hatch pendurar as chuteiras, após 42 anos de goleadas no mercado. Nos últimos tempos, o artilheiro da marca recebeu somente algumas discretas atualizações para continuar obedecendo às atuais legislações em vigor. Para suprir sua retirada de campo, a VW escalou o Polo Track, versão simplificada de um modelo com projeto mais moderno. Foi uma jogada ensaiada: logo depois da marca apresentar a última série do Gol (Last Edition), chegou ao mercado o Track 1st Edition.

Apesar da Volkswagen mercadologicamente ter definido inúmeras gerações do Gol (G1, G2, G3, G4, G5...), os 42 anos de história do modelo podem ser englobados em três fases principais. A primeira delas vai de 1980 até 1994: a carroceria de formas quadradas passou por duas reestilizações (uma em 1987, outra em 1990). A segunda fase do Gol engloba as carrocerias G2, G3 e G4, baseadas na plataforma AB9. Por fim, desde 2008 temos o hatch baseado na plataforma PQ24, a mesma utilizada pelo Fox e pelo Polo 2002-2014. Houve também alguns períodos de convivência entre gerações: o Gol 1000 "quadrado", por exemplo, permaneceu em produção até 1996, quando todo o restante da linha era "Bolinha". Até 2005, o Gol Special (G2) conviveu com a família G3. E, até o fim de 2013, o Gol G4 resistiu como a alternativa mais em conta dentro da linha Volkswagen.

O visual do Gol passou por sua última mexida em maio de 2018, alterando o design que havia sido reformulado em fevereiro de 2016. A bem de verdade, os faróis, grade, capô e para-choque dianteiro já estavam presentes na Saveiro e na versão aventureira Track do hatch, que estreou em novembro de 2016. A partir de 2018, o Gol passou a ser vendido com motor 1.0 MPI e câmbio manual de 5 marchas, 1.6 8 válvulas com câmbio manual de 5 marchas ou 1.6 16 válvulas MSI com câmbio automático de 6 marchas. Para esta matéria, escalamos o modelo 1.6 8v com câmbio manual na cor Cinza Platinum.

Em sua configuração básica, o Gol 1.6 se distinguia da versão 1.0 por ter rodas de aço de 15 polegadas, pneus 195/55 e calotas "Gabro" diferenciadas (o modelo com motor menos potente trazia rodas de 14 polegadas, calotas "Xisto" e pneus 185/65). O Gol poderia ser adquirido básico ou com pacotes de equipamentos opcionais, como o Media Plus, o Composition Touch e o Urban Completo, que trazia itens mais requintados. 

O Gol trazia faróis com máscara negra monoparábola, com luzes de posição abaixo dos piscas, e detalhes em preto-fosco na grade dianteira, capas dos retrovisores e maçanetas externas. A parte de trás do teto incluía a antena. Na traseira, o aerofólio incorporado à tampa do porta-malas também vinha com brake-light.

O hatchback da Volkswagen possui 3,89 metros de comprimento, 1,66 m de largura sem os retrovisores (1,89 m com os retrovisores), 1,47 metro de altura e distância entre-eixos de 2,47 metros. Este exemplar, ano 2020 e modelo 2021, está praticamente original. Recebeu volante com comandos de som, computador de bordo e telefone, além de luz interna de LED, emblema "1.6" na tampa traseira (dispensado nos Gols mais recentes) e alto-falantes JBL.

A lista de itens de série do Gol incluía ar-condicionado, direção hidráulica, banco do motorista com ajuste de inclinação, suporte flexível para celular com entrada USB, vidros dianteiros elétricos com função um-toque para cima/baixo e recurso anti-esmagamento, travamento automático das portas a partir de 20 km/h, limpador, lavador e desembaçador traseiro, alerta sonoro de faróis acesos e ignição ligada com a porta do motorista aberta, além do alerta visual do não-uso do cinto de segurança do motorista (com alerta sonoro a partir de 25 km/h).

O volante contava com o aro em plástico espumado, com abas para as mãos, mas a coluna de direção era fixa nas versões de entrada. O quadro de instrumentos traz conta-giros à esquerda (com faixa vermelha a partir de 6 mil rpm), velocímetro à direita (com indicação até 240 km/h) e uma tela monocromática vermelha com relógio digital, hodômetros (total e parcial) e as indicações de temperatura do líquido de arrefecimento do motor e marcador do nível de combustível. Durante a condução, ícones exibidos no canto superior direito sugerem as trocas de marcha. Há dois botões na cúpula dos instrumentos: no lado esquerdo, é possível alternar entre três níveis de claridade dos instrumentos. Já do lado direito era possível zerar o hodômetro parcial.

Na alavanca de luzes, os piscas acendem três vezes com um toque leve, sem acionar a haste até o clique. Já a alavanca dos limpadores traz as possibilidades de acionar as palhetas uma vez e os funcionamentos intermitente variável, contínuo lento e contínuo rápido. Ao deslocar a alavanca para a posição mais afastada das mãos, é possível acionar o limpador traseiro.

O suporte para celular foi item de série no Gol entre os modelos 2017 e 2022. Removível e flexível, podendo acomodar o celular na vertical ou na horizontal, ele incorpora uma entrada USB para carregamento de dispositivos, com aproximadamente 1,5 Ampère.

Este exemplar traz o sistema de som Media Plus (RCD 320G 2DIN), com CD/MP3 Player, entradas para cartão SD, USB e auxiliar, além do Bluetooth para celulares e dos rádios AM e FM, com função RDS, controle do brilho da tela e ajuste do volume conforme a velocidade. O sistema de som incorpora dois tweeters nas colunas dianteiras, dois alto-falantes nos forros de porta dianteiros e mais dois falantes próximos ao tampão do porta-malas.

O ar-condicionado manual possui quatro velocidades de ventilação e botões para ligar/desligar o compressor de ar e para alternar entre recirculação ou captação do ar externo.

Com forro de teto cinza e sem alças para os passageiros, o Gol possui um único foco de luz, que fica entre as sombreiras. Os dois para-sois possuem espelhos, sendo que para o motorista há uma tampa corrediça.

O porta-luvas tem espaço generoso, mas não dispõe de iluminação nem de nichos para objetos menores.

O botão giratório de luzes alterna entre faróis desligados, luzes de posição acesas ou o facho baixo ligado. Logo abaixo do painel há um porta-objeto aberto, na região que também dá acesso a parte dos fusíveis do veículo. Abaixo das saídas de ar centrais estavam os botões do desembaçador traseiro e do pisca-alerta, que acendia quando apertado.

Os forros de porta dianteiros e traseiros também trazem porta-objetos. No início do console há um tomada de 12 Volts com tampa retrátil e dois porta-copos. O console termina pouco depois da alavanca de câmbio, com coifa em couro, material presente também na cobertura da alavanca de freio de mão, com gatilho preto-brilhante - cor também presente nas maçanetas internas.

Os bancos são de tecido, com estampas de tramas de triângulos; atrás dos encostos dianteiros há revestimento de material sintético. Roldanas giratórias ajustam a inclinação dos encostos, enquanto os apoios de cabeça regulam em altura.

O banco traseiro é inteiriço, com três apoios de cabeça ajustáveis em altura e cintos de três pontos para todos os ocupantes, e pode ter o encosto rebatido para a frente, ao puxar dois pinos. Há até duas fendas nos acabamentos plásticos laterais para encaixar as fivelas dos cintos ao rebater o banco, embora não haja porta-revistas. Também há as fixações Isofix/Latch e Top Tether para cadeirinhas infantis. O espaço interno é bom para cabeça e pernas, embora o túnel central seja um tanto quanto intrusivo para os pés.

A chave-canivete original possui um chaveiro da Pósitron com botões para travamento e destravamento das portas. Ao trancar o carro, as janelas dianteiras levantam.

O porta-malas trazia a capacidade de 285 litros. A tampa, que só poderia ser aberta ao girar a chave na fechadura externa nas configurações de entrada, vinha com um vão na parte esquerda da cobertura plástica para ajudar a fechá-la. Com laterais e assoalho revestidos em carpete, mas sem iluminação, o habitáculo também acomodava o estepe, com roda de ferro de 15 polegadas e pneu 195/55 (idêntico aos no chão), devendo receber 36 libras de pressão.

O motor 1.6 EA-111 Total Flex, de quatro cilindros em linha e trabalhando a uma taxa de compressão de 12,1:1, rendia 101/104 cavalos a 5250 rpm e torque de 15,4/15,6 kgfm a 2500 rpm (com gasolina e etanol, nesta ordem). Segundo a fábrica, abastecido com etanol, o Gol ia de 0 a 100 km/h em 10,4 segundos e atingia 182 km/h de velocidade máxima. O cofre do motor mantinha o reservatório de gasolina para partida a frio somente na versão 1.6 8 válvulas, podendo receber até 800 mL de combustível. Já o reservatório do líquido do para-brisa, com capacidade de 2,4 litros, traz uma pequena peneira removível.

O 1.6 EA-111 estreou no Brasil em março de 2001 com o VW Golf e o Audi A3, trazendo potência e torque em menores rotações do que o anterior EA-113. No Fox, lançado nos idos de 2003, este propulsor se tornou flex-fuel. A família Gol, que passou mais alguns anos com o AP 1.6, só aderiu ao novo motor na geração G5, em 2008. Para o Gol, os números de potência e torque do EA-111 sempre foram os mesmos até o fim de sua disponibilidade. 

A portinhola externa de acesso ao tanque de combustível, de 55 litros, pode ser aberta e fechada a qualquer momento, mas para efetivamente abrir o bocal do tanque era preciso entregar a chave do carro ao frentista. No verso da portinhola havia uma etiqueta com a pressão recomendada para os pneus (29 libras nos dois eixos com carro levando duas pessoas e pouca bagagem, ou 31 libras na frente e 36 libras atrás com carga total).

No quesito segurança, ficava evidente que o Gol já não batia um bolão. Trazia pouco mais do que era exigido pelas legislações atuais, com dois airbags, freios ABS e sem controles de estabilidade e tração. Apenas para efeito de comparação, o Polo Track vem de fábrica com quatro airbags, assistente de partida em ladeiras, controle eletrônico de estabilidade, alerta do não-uso do cinto de segurança para todos os passageiros e bloqueio eletrônico do diferencial (XDS+).

Impressões ao dirigir

Nós do Auto REALIDADE já havíamos dirigido outros sete Gols antes de assumir o comando deste exemplar - entre eles, havia unidades das carrocerias G2, G3 e G4, além dos modelos mais recentes de 2016 e 2019. O posicionamento ao volante do Gol exige uma dose de paciência do condutor: a coluna de direção é fixa nas versões mais básicas, e o ajuste de altura do banco do motorista na verdade mexe na inclinação do assento, fazendo com que ele fique mais elevado e reto ou mais baixo e curvado para trás. Menos mal que os cintos dianteiros ajustam em altura.

O volante tem boas abas para as mãos e o plástico espumado é agradável ao toque. A direção hidráulica não chega ao nível de suavidade transmitido pela assistência elétrica de alguns dos seus rivais, além de exigir cuidado para não permanecer no fim do batente por mais de 15 segundos e de apresentar diâmetro de giro razoavelmente grande para o tamanho do veículo (10,9 metros) mas, ainda assim, entrega sua comodidade nas manobras.

Os instrumentos proporcionam leitura fácil e são bem-dimensionados, com algarismos em branco e ponteiros vermelhos - o Gol já teve iluminação verde na segunda metade dos anos 90, a controversa mistura de azul com vermelho na era GIII e os minúsculos indicadores laterais do modelo G4 (nele, só o velocímetro era privilegiado). O indicador de trocas de marcha sugere mudanças em velocidades próximas às de um carro 1.0, mesmo nesta versão 1.6.

Um dos principais pontos positivos do Gol é a operação do seu câmbio manual. O pedal de embreagem é previsível e a alavanca de câmbio oferece engates macios, justos e que demandam pouca movimentação da mão. A ré é engatada ao empurrar a alavanca para baixo e para a extremidade esquerda, como é padrão nos modelos recentes da Volkswagen.

O conjunto de suspensão também se esforça para oferecer robustez no uso cotidiano. O nível de absorção de impactos é aceitável para um hatch compacto, e a altura em relação ao solo de 17,3 centímetros é de causar inveja a alguns SUVs compactos. O veterano motor 1.6 entrega bom índice de torque em baixa rotação, sendo suficiente para movimentar os 1020 quilos da carroceria, apesar do seu ronco não ser tão agradável aos ouvidos.

Durante nossa sessão de fotos com este Gol, um fato no mínimo curioso chamou a atenção: dois homens se aproximaram do carro, perguntando qual era o preço pedido por ele (ok, é preciso considerar o fato de que o local é muito aproveitado por pessoas que pretendem fazer imagens de seus veículos para anúncios). Este exemplar do Volks não está à venda, mas o episódio ilustra bem a grande liquidez que o Gol possui no mercado de carros seminovos e usados.

Para concluir...

Depois de 8,5 milhões de unidades produzidas, o Volkswagen Gol deu adeus, mas transformou para sempre o segmento dos hatches compactos no Brasil. O Polo reúne boas qualidades, como maior nível de segurança, espaço interno ampliado e plataforma mais moderna, mas também é um carro mais caro - e preço ainda é um fator primordial para muita gente que planeja adquirir um automóvel zero-quilômetro. 

Vem conferir a Galeria de Fotos do Volkswagen Gol 1.6 8v!



Comentários

Xracer disse…
Mais um excelente post, gosto muito da extrema meticulosidade ao mostrar todos os detalhes do carro e das centenas de fotos !