Análise de Filme - Schumacher (2021, Netflix)


Fotos | Divulgação/Site Oficial Michael Schumacher

Ao começar a assistir o documentário Schumacher, dirigido conjuntamente por Hanns-Bruno Kammertöns, Vanessa Nöcker e Michael Wech (disponível na Netflix desde o dia 15 de setembro de 2021), é inevitável criar grandes expectativas em torno do que será exibido. Afinal, a carreira do piloto alemão na Fórmula 1 foi histórica e inigualável, com 91 Grandes Prêmios vencidos e sete títulos mundiais. Porém, a impressão que fica é a de que 1 hora e 53 minutos definitivamente não foram suficientes para contar a trajetória de Michael Schumacher - e que, ao invés de um filme, teria sido mais interessante revelar mais detalhes de toda esta história de Schumi (como ele era chamado entre fãs) em uma série de episódios.

O documentário começa com cenas de um mergulho de Michael Schumacher em família para em seguida narrar suas primeiras corridas já na Fórmula 1, na temporada de 1991. Minutos depois, a produção opta por voltar mais ao tempo, inserindo os depoimentos de seu pai, Rolf, e de seu irmão (o também ex-piloto de Fórmula 1 Ralf Schumacher) sobre os tempos do kart e do começo difícil - uma época em que os irmãos reutilizavam pneus jogados no lixo para as corridas, e, ainda assim, conseguiam se destacar nas competições. 

Esse recorte foi um tanto confuso, mas, a partir daí, o filme retoma a sequência cronológica da história do jovem (e promissor) piloto. Logo no início do documentário, também se estranha a forma como as pessoas que deram seus depoimentos são exibidas. Com algumas vozes em off (sem imagem ou descrição de quem fala em certos momentos), nem sempre é possível identificar com facilidade a pessoa que está falando. Além disso, algumas legendas visuais quase não são vistas no vídeo.

O início da carreira de Michael Schumacher se deu na equipe Jordan-Ford, no ano de 1991. Ele tinha 22 anos e foi escalado para substituir Bertrand Gachot, piloto que passou dois meses preso por ter atacado um taxista com spray lacrimogêneo durante uma briga de trânsito. Foi possivelmente uma das mais curtas passagens de um piloto por uma equipe de Fórmula 1: a primeira corrida de Michael durou menos de um minuto, pois a embreagem de seu carro apresentava falha, e Schumi logo optou por ingressar na equipe da Benetton-Ford, que até então era uma equipe de resultados medianos. Schumacher fechou aquele ano na décima-quarta colocação geral entre os pilotos, tendo efetivamente terminado três das 12 corridas do campeonato de 92.

O documentário fala muito rapidamente do período entre 1992 e 1993, dominado pela equipe Williams-Renault, com carros que traziam mais assistências aos pilotos, como câmbio semi-automático e aerofólio ativo. Mesmo assim, Schumi terminava a temporada de 92 na terceira posição entre os pilotos, e esteve na quarta colocação geral em 93. O filme prefere resgatar um episódio de briga ocorrida entre Ayrton Senna e Michael Schumacher no GP da França de 1992, em Magny-Cours. Schumi tentou passar, Senna o bloqueou e o Benetton bateu na traseira do McLaren. Inconformado, o piloto brasileiro foi tirar satisfações com o alemão.

O documentário Schumacher se prolonga em acontecimentos da temporada do ano de 1994, como a obrigação que Senna, agora na Williams-Renault, tinha de vencer corridas com um carro que lhe rendeu diversos problemas, inclusive resultando no acidente fatídico da curva Tamburello em Ímola. Nesta parte, consideramos desrespeitoso o fato do filme ter ignorado completamente o acidente e subsequente morte do piloto austríaco Roland Ratzenberger, ocorrida um dia antes do falecimento de Ayrton, durante a qualificação do GP de San Marino. 

Após retratar a corrida do dia 1ª de maio de 94, que seguiu ocorrendo após o acidente de Senna e foi vencida por Schumacher mas não teve comemoração no pódio, o filme mostrou um depoimento do próprio Michael relatando sobre a dificuldade de aceitar a morte de Senna, os problemas para dormir e o medo de determinados pontos dos circuitos que poderiam ser locais de acidentes sérios. Depois, o documentário focou na rivalidade que se desenvolveu entre o alemão Schumacher e o inglês Damon Hill (da Williams-Renault), que durou até o último GP de 94, na Austrália. 

Schumacher acabou perdendo o controle de seu carro, bateu na mureta, tentou voltar para a pista e Hill tentou ultrapassar, mas o piloto alemão "fechou a porteira" e ambos colidiram, com a Benetton de Schumi ficando brevemente com duas rodas no ar. Para Schumacher, não havia condições de retomar a corrida. Damon Hill foi para os boxes, mas, como a suspensão de seu carro estava bem avariada, também não houve chances para o inglês voltar para a pista. Desta maneira, Schumacher, pela soma de pontos, foi declarado o campeão mundial de Fórmula 1 no ano de 1994, com 8 vitórias e duas vice-lideranças entre as 16 corridas da temporada. O filme, contudo, não aborda as quatro ocasiões em que Michael foi desqualificado ou banido das corridas de F1 por conta de características do carro que não estavam no regulamento.

O filme conta com vários depoimentos de Corinna Schumacher, esposa de Michael desde 1995, e resgata alguns momentos da intimidade do casal. Em 95, Schumi também foi campeão mundial de Fórmula 1 pela Benetton (que passou a utilizar motor Renault). A equipe, por sua vez, garantiu o título de campeã mundial entre os construtores.

Também é abordado no documentário o começo da trajetória de Schumacher pela Scuderia Ferrari, iniciada em 1996. As expectativas, claro, eram bastante altas. Porém, o carro era ruim (fato corroborado no filme por seu então colega de equipe, Eddie Irvine), e com isso Schumacher não conseguiu mais do que uma terceira colocação no pódio de pilotos naquela temporada, que foi vencida por Damon Hill.

O ano de 1997 foi ainda pior para Michael Schumacher. Na derradeira corrida da temporada, ocorrida em Jerez de la Frontera (Espanha), a acirrada disputa entre o piloto alemão e o canadense Jacques Villeneuve (Williams-Renault) resultou em um acidente entre ambos, notadamente causado por Schumi, que inicialmente entrou em negação sobre sua culpa na batida, mas que depois teve que reconhecer o ocorrido. O piloto da Ferrari foi retirado, enquanto Villeneuve prosseguiu com a corrida e chegou em terceiro lugar. O filho do também piloto Gilles Villeneuve tornou-se o campeão mundial da F1 em 97, enquanto Michael Schumacher, por conta deste episódio, foi desqualificado do campeonato por inteiro (ele teria sido o vice-líder do campeonato pelos pontos contabilizados até então). No filme, Corinna relembra do período logo após o ocorrido, em que seu marido decidiu passar uma temporada na neve, com amigos.

Os anos seguintes também não foram fáceis para Michael Schumacher. A disputa entre ele e o finlandês Mika Häkkinen (da McLaren-Mercedes, e também entrevistado neste documentário) foi intensa durante este período, e Häkkinen venceu os campeonatos de 1998 e 1999. O documentário aborda brevemente o drama que Schumi viveu no GP da Grã-Bretanha de 99: por conta de uma falha nos freios, a Ferrari do piloto alemão passou reto por uma das curvas do circuito e bateu na contenção de pneus. Schumacher teve lesão em uma das pernas e deixou de competir nos seis GPs seguintes, retornando na penúltima corrida do campeonato. Mesmo assim, a Ferrari conseguiu conquistar o título de campeã entre as equipes em 1999, com Schumacher, Mika Salo e Eddie Irvine pilotando.

Àquela altura, pairavam dúvidas sobre a continuidade de Michael Schumacher na Ferrari, diante de tanto tempo do promissor piloto correndo pela equipe sem conquistar um título mundial - este feito não era conquistado por um piloto da Scuderia desde 1979, com o piloto sul-africano Jody Scheckter. Mas, a partir de 2000, a sorte se fez presente na carreira de Schumacher, que finalmente superou Häkkinen e levou o seu primeiro título mundial pela Scuderia Ferrari. A emoção desta ocasião foi tamanha que o filme não chegou a abordar em mais detalhes os títulos subsequentes que Schumacher conquistou nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2004, que o consagraram como heptacampeão mundial de Fórmula 1. Tampouco foi feita menção a Rubens Barichello, companheiro de equipe de Schumi entre 2000 e 2005, que só aparece rapidamente em algumas cenas.

Em 2005, Schumacher fechou a temporada na terceira colocação, atrás dos então novatos Fernando Alonso e Kimi Räikkönen. Chegou à vice-liderança em 2006, atrás apenas de Alonso e passando a ter a companhia de Felipe Massa na Ferrari, mas decidiu, ao final daquela temporada, que era hora de se aposentar. No entanto, Schumi continuou a ser piloto de testes para auxiliar no desenvolvimento dos veículos.

O filme mostra o retorno de Schumacher à Fórmula 1 a partir de 2010, pela Mercedes. Ficou até 2012, com resultados que nem pareciam os de um campeão outrora tão hegemônico: fechou a temporada de 2010 na nona colocação geral, terminou 2011 em oitavo e concluiu a temporada 2012 na 13ª posição geral. Foi substituído pelo britânico Lewis Hamilton (atualmente também heptacampeão mundial de Fórmula 1) e anunciou a sua segunda aposentadoria das disputas na categoria.

O documentário traz os depoimentos emocionados de Corinna e dos filhos Gina-Maria (de 24 anos) e Mick (de 22 anos, piloto de Fórmula 1 desde 2021 pela Haas-Ferrari) sobre o acidente de ski que Michael sofreu no dia 28 de dezembro de 2013 e sobre como passou a ser a vida desde então. Mesmo usando capacete, o piloto teve sérios traumatismos na cabeça decorrentes do choque, ficou em coma induzido e passou por dois hospitais até voltar para casa, em setembro de 2014, onde segue em tratamento. Desde então, muitas especulações se formaram em torno do atual estado de saúde do campeão. Pelo teor dos depoimentos dados pela família no documentário, Schumi ainda inspira muitos cuidados de saúde. Os fãs de automobilismo ficam no aguardo por boas notícias sobre o piloto.

Comentários