Os extravagantes automóveis da Clénet e C&C


Nascido em 1944 e formado na França, Alain Clénet soube explorar o mercado de automóveis artesanais que ganhou popularidade nos Estados Unidos a partir de meados da década de 1970 - mais notavelmente o Excalibur. Um ano após se mudar para o território norte-americano, fundou em 1975 junto com investidores a Clénet Coachworks em Santa Barbara County (Califórnia, EUA), que iniciou com uma pequena equipe em um hangar de aeroporto e que depois se transferiu para uma linha de montagem mais moderna em Goleta.


Apesar da aparência que remetia aos conversíveis clássicos da década de 1930, o Clénet Series I utilizava peças de antigos MG Midget, componentes mecânicos contemporâneos, do Lincoln Continental Mark IV, e enormes motores 6.6 ou 7.5 litros, que rendiam de 163 a 200 horsepower - só o capô dominava dois dos seus 4,88 metros de comprimento. De série, o modelo trazia direção hidráulica, ar-condicionado, coluna de direção ajustável e vidros elétricos, além de materiais nobres em seu acabamento.


Em setembro de 1979, foi substituído pelo Series II, de quatro lugares, estilo mais robusto, motor menos potente (5.8 de 156 horsepower) e carroceria bem maior (5,69 m de comprimento), que utilizava portas, retrovisores e quebra-ventos do Fusca conversível. Entre os ilustres proprietários de carros da Clénet estavam: Sylvester Stallone, Julio Iglesias, Rod Stewart, Farrah Fawcett e até o Rei Husseim da Jordânia. Os carros da Clénet chegavam a ser chamados de "Rolls-Royce americanos" e eram o ápice da exuberância sobre rodas, mas custavam muito caro, o que levou à falência da montadora em 1980.


O ex-funcionário Alfred J. DiMora, porém, reviveu a Clénet e foi o responsável pelo projeto do modelo Series IV (abaixo), mantendo o sucesso e o carisma da montadora. Em 1981 foi lançado o Series III (cupê ou conversível), com motor 4.9 de apenas 136 HP. Se o primeiro modelo chegava a 190 km/h, o III não passava dos 145 km/h.

Em 1986, o Clénet foi escolhido pelo então presidente norte-americano Ronald Reagan como o automóvel oficial do centenário dos veículos movidos a gasolina. Foram 250 unidades do Clénet Series I, 187 Series II, 65 Series III e 15 Series IV. 


Durante a segunda metade da década de 1980 e o início dos anos 1990, Clénet, agora presidente da ASHA, contribuiu com novos projetos na C&C (Cars & Concepts), estabelecida em Brighton, Michigan (EUA) e que teve David Draper como CEO. Um dos mais interessantes foi o Intrigue (logo depois rebatizado com o nome Tresaire, pois a GM registrou o primeiro nome para seu sedã da Oldsmobile, produzido entre 1998 e 2002). O conversível projetado em um ano e meio foi precursor da capota rígida acionada eletricamente com teto de vidro, que recebeu até nome próprio: Skylite Convertible Hardtop System. Em tese, a capota podia ser acionada a até 105 km/h.


Apresentado no Salão de Detroit (EUA) de 1990, o Intrigue era um carro-conceito funcional, com motor 5.0 V6 da Chevrolet, que rendia 350 horsepower. Curiosamente, o capô era integrado aos para-lamas dianteiros e ao para-brisa. No lugar do espelho, trazia câmera de TV; o bocal do combustível ficava escondido atrás do pisca esquerdo traseiro. No ano de 1991, já rebatizado Tresaire, recebeu a chamativa cor amarela e acumulava ao redor de 10 mil acionamentos de capota. A única unidade foi redescoberta cerca de 20 anos após a primeira exibição, com poucos sinais do tempo (todos reversíveis).



Também em 1990 foi apresentado o C&C LSV, utilitário com motor 2.0, tração integral, capota (rígida ou de lona), vidros e estofamentos removíveis. Outro projeto desenvolvido naquela época foi o C&C Cielo, baseado no Ford Thunderbird "vigente" e com teto de vidro retrátil que trazia uma célula solar para acionar um ventilador caso a temperatura na cabine fosse elevada, podendo ficar opaco com o excesso de calor. Nenhum dos modelos chegou a ser produzido em série e até mesmo informações sobre estes carros pela internet são escassas, mas anteciparam diversas das tecnologias dos modelos da atualidade.


Mesmo após o encerramento das atividades da Clénet Coachworks, Alfred DiMora deu seguimento à bem-sucedida carreira fora do mundo automotivo (como a Star Bridge Systems e a DiMora Mobile) e chegou a realizar transformações exóticas até demais em meados dos anos 2000, como o JX Coupe (acima), baseado no Chrysler Concorde 1999 com motor 3.2 V6 de 260 horsepower, e o Scattare, que tomou como base o Oldsmobile Aurora e trazia uma customização ao estilo da velha guarda do tuning - com direito a pintura em dois tons separada por uma faixa de "queijo"...



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