Fiat Marea SX 2.0 1999: entre fãs e haters, ele sempre dá o que falar!

Texto e Fotos | Júlio Max, de Teresina (Piauí) 
Colaboraram nesta matéria | José Moisés e Gabriel Cardoso

Com admiradores (e detratores) em todo o Brasil, o Fiat Marea continua dando muito o que falar nas rodas de conversa automotivas, mesmo quinze anos depois do seu fim de produção. O modelo foi lançado no Brasil em maio de 1998 nas carrocerias sedã e Weekend, destacando-se pelo estilo ousado e pelo conjunto inédito de equipamentos e tecnologias entre os veículos da montadora de Betim (MG). Para ajudar as pessoas a conhecer um pouco mais de seu novo modelo, a Fiat disponibilizou um CD-ROM que mostrava em detalhes toda a linha Marea, incluindo imagens, fichas técnicas e os jingles de lançamento. Depois dos peixinhos que marcaram o lançamento da Palio Weekend em 1997, a publicidade deu destaque a nuvens que se encantavam com o Marea, ajudando a limpar o caminho que o carro percorria (você se lembra?).

Apresentado em setembro de 1996 no mercado italiano, o Marea substituiu diretamente a linha Tempra e também serviu como sucessor indireto do Croma (um modelo maior e que tinha parentesco com o Alfa Romeo 164). Estrutural e mecanicamente, o novo modelo tinha muito em comum com os modelos Bravo e Brava, lançados na Europa um pouco antes, no ano de 1995. Com estilos de traseira completamente diferentes, o Bravo era um hatchback de duas portas, enquanto o Brava era um notchback (com carroceria de "dois volumes e meio" e quatro portas, em formato similar ao Astra e ao Escort). Estava tudo certo para o Bravo ser vendido no Brasil a partir de 1999, mas a disparada do valor do dólar norte-americano diante do real naquele ano fez a marca desistir de importar o modelo de 2 portas, ao mesmo tempo em que a marca se decidiu por fabricar o Brava em Minas Gerais a partir de setembro de 1999. As linhas do Marea foram traçadas pelo Centro Stile Fiat e seu desenvolvimento ocorreu sob o codinome "Projeto 185". Seu nome significa "maré" em italiano.

Tanto o Marea Sedan quanto a Weekend chegaram ao mercado nacional simultaneamente em duas opções de versões: ELX e HLX. Ambas contavam com o motor 2.0 20 válvulas "Fivetech" de cinco cilindros, com dois eixos de comando no cabeçote e acionamento por correia dentada, que rendiam 142 cavalos e 18,1 kgfm de torque a 5000 rpm. Passado apenas um mês após a apresentação, surgia a versão de entrada SX.

Para custar menos do que o ELX, alguns itens se tornavam indisponíveis até mesmo como opcionais no modelo mais simples, como regulagem manual lombar do banco do motorista, porta-revistas atrás dos bancos dianteiros, check-control no painel e luz de leitura traseira. Outros itens que eram de série no ELX passaram a ser oferecidos por custos adicionais no SX, como vidros dianteiros elétricos, ar-condicionado (com modo automático de funcionamento e filtro antipólen), regulagem de altura do banco do motorista, apoio de braço traseiro e rádio com toca-fitas, relógio e 4 alto-falantes + dois tweeters.

Mecanicamente, a diferença mais fundamental do SX era o menor nível de força do motor 2.0, que visava enquadra-lo em uma faixa menor de Imposto sobre Produtos Industrializados (na época, veículos com potência superior a 127 cavalos tinham tributação elevada de 25% para 30%). Não por acaso, a potência do SX caiu de 142 exatamente para 127 cavalos. Apesar dos cavalos a menos, a faixa de rotação do motor para alcançar a potência máxima também foi reduzida de 6000 para 5500 rpm. O torque teve uma redução mínima (de 18,1 para 17,9 kgfm) e passou a ser alcançado a 4500 giros por minuto (ante 5000 rpm do motor original). Conforme dados de fábrica, as versões ELX e HLX aceleravam de 0 a 100 km/h em 9,3 segundos (tempo que subia para 9,9 s no sedã SX) e chegavam a 204 km/h (no SX, a velocidade máxima era de 196 km/h).

De série, a versão SX conservava itens de série como direção hidráulica, volante com regulagem de altura, travas elétricas das portas, abertura interna da tampa do porta-malas e da portinhola do tanque de combustível, ajuste interno de altura do facho dos faróis, apoios de cabeça dianteiros e traseiros (atrás, eles eram do tipo "vírgula", para não interferirem na visão pelo retrovisor interno quando estivessem recolhidos), ajuste de altura para os cintos dianteiros (com pré-tensionadores), brake-light, codificação eletrônica da chave (Fiat Code) com bloqueio de motor e luz traseira de neblina.

O curioso é que o SX teve uma gama bastante ampla de opcionais de fábrica, permitindo que esta versão tivesse os itens de um ELX ou até de um HLX. Nele, era possível adicionar teto solar elétrico, freios ABS, airbag para o motorista ou duplo (incluindo pré-tensionadores elétricos dos cintos dianteiros), som com disqueteira (CD Changer) para seis discos, rodas de liga leve, travamento e destravamento das portas à distância pela chave (com alarme disponível), lavador de faróis (vinham junto com as luzes de neblina), capas dos retrovisores pintadas e espelhos externos com desembaçadores, banco traseiro bipartido e vidros elétricos nas quatro portas.

Quando o Marea chegou em território brasileiro, a linha Tempra já não tinha mais o mesmo prestígio de outrora (seu auge ocorreu entre os anos de 1994 e 1996). A Station Wagon, por exemplo, deixou de ser importada em 96, por conta da redução da competitividade dos produtos estrangeiros (em junho de 1995, a alíquota do imposto de importação para automóveis explodiu para 70% e passou a ser imposto o teto de 100 mil unidades de automóveis que poderiam ser importadas para o País a cada ano). O sedã resistiu apenas nas versões 2.0 8v e 16v de quatro portas, recebendo uma reestilização em sua linha 1999 como uma tentativa de sobrevida (na época, começou a se tornar prática comum na indústria nacional produzir antecessor e sucessor juntos por algum tempo). Mas a carreira do Tempra acabou se encerrando em novembro de 1998.

O exemplar desta matéria é um SX ano e modelo 1999, com a carroceria na cor Cinza Trend. Ele recebeu as rodas de liga leve de seis raios e 15 polegadas do Marea Turbo, chip, escape de 2,5 polegadas sem catalisador, velas de irídio, filtro de ar esportivo K&N inbox, relé que habilita o variador de fase do comando de válvulas, bomba d'água do Alfa Romeo 145 e nova embreagem. No mais, ele mantém as características originais - inclusive os adesivos de controle de qualidade da Fiat no para-brisa.

Em 99, era possível adquirir o Marea nas cores Azul Leader (metálico), Azul Santiago (metálico), Branco Banchisa (sólido), Cinza Steel (metálico), Cinza Trend (metálico), Preto Vulcano (sólido), Verde Emerald (perolizado), Verde Sierra (metálico) e Vermelho Pompei (metálico).

A carroceria do sedã mostrava preocupação com a aerodinâmica em diversos detalhes. O capô com vincos nas laterais e a frente arredondada contribuíam para "cortar" o vento com mais facilidade. Os para-choques e saias laterais contavam com partes de formato aerodinâmico. A antena de teto ficava inclinada, o formato dos retrovisores era mais arrojado e as molduras de borracha das janelas dianteiras traziam pequenos defletores. Até as palhetas dos limpadores vinham com coberturas plásticas. Tudo isso contribuiu para que o coeficiente aerodinâmico (Cx) fosse de 0,32. 

O interior da versão SX trazia bancos em tecido tear "azul-verde", material que também revestia os forros de porta dianteiros e traseiros (as versões ELX e HLX vinham com veludo). Concebido em uma época onde os porta-objetos ganhavam relevância, o Marea trazia porta-moedas e porta-objeto abaixo do apoio de braço dianteiro, além de porta-copo e porta-caneta embutidos na tampa do porta-luvas, espaços para objetos nos forros de porta dianteiros e traseiros, nichos no painel e porta-documento no para-sol do motorista. O carona dispunha de um espelho em seu quebra-sol.

O quadro de instrumentos do Marea, assinado pela Veglia Bortelli, traz fundo preto e caracteres com iluminação esverdeada. Quatro indicadores se destacam: marcador do nível de combustível, conta-giros, velocímetro e indicador de temperatura do líquido de arrefecimento do motor. As versões ELX e HLX traziam o check-control, que vinha com um indicador individual de porta aberta (mostrando inclusive se a tampa traseira foi aberta) e acendia luzes-espia em caso de lâmpadas queimadas. No SX, havia luz-espia indicando sobre o não-afivelamento do cinto de segurança. Já o marcador de velocidade traz uma "janelinha digital" com hodômetro parcial e total. Logo abaixo ficavam as regulagens de altura do facho dos faróis e o reostato para ajustar o brilho dos instrumentos.

O exemplar da matéria possui o aparelho de som original Fiat Digital Stereo integrado ao painel, com rádio e toca-fitas, além de um visor central que servia como relógio. Um adaptador, com o mesmo formato de uma fita cassete e que é inserido no aparelho, traz um cabo que permite ouvir as músicas dos celulares dos dias de hoje.

Este exemplar também traz o ar-condicionado, que tinha modo automático de funcionamento e saída de ar traseira. Entre as posições "0" e "1" de ventilação ficava a função Auto. A temperatura podia ser ajustada entre 18 e 30 graus Celsius. Abaixo dos controles de ar estavam o acendedor de cigarros com o cinzeiro iluminado.

Alavancas no piso, à esquerda dos pés do motorista, permitiam abrir a tampa do porta-malas e a portinhola do tanque de combustível por dentro. Já o capô era aberto por uma alavanca em posição centralizada na parte inferior do painel.

A chave de haste fixa trazia a tradicional carcaça plástica azul, assim como em outros modelos da Fiat daqueles tempos.

Mecanicamente, o Marea mostrava refinamentos que ainda faltam até hoje em certos veículos nacionais, como freios a disco nas quatro rodas (ventilados na frente e sólidos na traseira) e suspensão independente nos dois eixos. A suspensão dianteira, do tipo McPherson, trazia barra estabilizadora ligada ao amortecedor para melhorar a estabilidade nas curvas e vinha com molas helicoidais descentralizadas para reduzir os atritos de deslizamento. Já o conjunto de suspensão na traseira vinha com tensores que eram coligados à carroceria por um subchassi auxiliar e fixados por coxins. O sedã tinha tanque de combustível com capacidade de 63 litros e levava até 430 L em seu porta-malas.

Em setembro de 1998, começou a fabricação nacional da Weekend. Para 1999, as novidades eram a introdução do Marea Turbo (com 182 cavalos de potência e torque de 27,0 kgfm entre 2750 e 4000 rpm) e a mudança de motorização da versão SX, que deixou de ter o 2.0 Fivetech para adotar o 1.8 16v de quatro cilindros e 16 válvulas. A potência se mantinha nos 127 cavalos anteriores, mas a rotação para alcançá-los passava para 6500 rpm (pouco tempo depois, este motor passaria a render 132 cv). Já o torque era reduzido para 16,7 kgfm e passava a ser atingido a 4000 rpm.

Em julho de 2000 foi lançado o Marea 2.4, que substituiu a versão 2.0 aspirada, nas versões ELX e HLX. Mantendo os cinco cilindros e as vinte válvulas, o motor de 2446 cm³ tinha 160 cavalos a 6000 rpm e 21,0 kgfm de torque a 3500 rpm. 

Para manter o Marea atraente no nosso mercado, em meados de 2001 a Fiat promoveu uma reestilização para a linha 2002, desenvolvido no Brasil (e que também foi aplicado no modelo feito na Turquia, produzido até 2007). Além de estrear o escudo redondo da Fiat com fundo azul e a coroa de louros ao redor, o sedã passou por um "butt-lift": quem mudou mais substancialmente não foi a dianteira, como nos tradicionais face-lifts, mas sim a traseira, que passou a ter nova tampa do porta-malas e lanternas do Lancia Lybra (primo rico do Marea vendido na Itália). A Weekend permaneceu com a traseira já existente. Ao final de 2001, o câmbio automático de 4 marchas passou a estar disponível para a versão HLX 2.4. O Auto REALIDADE já dirigiu um exemplar do Marea HLX 2.4 2003: clique aqui para conferir esta experiência!

Na Itália, o ciclo do Marea se encerrou em 2002. O sedã não teve sucessor direto, enquanto a Weekend abriu caminho para a Stilo Multiwagon. Aqui no Brasil, a linha Marea resistiu com novidades discretas: passou a ter o pacote Connect (com Bluetooth e um celular de brinde) e, no ano de 2005, foi submetido a uma leve reestilização, com nova grade e rodas redesenhadas, além da atualização de emblemas na traseira e do estilo das lanternas, que passaram a ser parcialmente escurecidas. Foi neste mesmo ano que ele passou a ter a versão 1.6, de quatro cilindros e 106 cavalos. Em 2006, a Weekend saiu de linha, penalizada pelas baixas vendas: o segmento de station wagons de médio porte já estava em franco declínio no Brasil. 

Em março de 2007, o Marea Turbo saiu de linha praticamente ao mesmo tempo em que chegavam ao mercado os (então) novos Civic Si e Golf GTI. Foram apenas 2690 unidades produzidas, somando sedã e perua, da versão mais esportiva do Marea - já é, portanto, um carro colecionável. As demais versões continuaram a ser produzidas até novembro de 2007 - a fabricação do sedã foi encerrada após 54.781 unidades produzidas para abrir mais espaço na linha de produção para o recém-lançado Punto. Sem sucessor direto, o Marea teve seu espaço no mercado ocupado pelo Linea, que tinha porte de sedã "compacto-premium" (como o Honda City) mas foi posicionado mercadologicamente pela Fiat como um sedã médio. Não por acaso, o sedã do Punto amargou baixos índices de vendas durante o seu ciclo de vida. 

Sempre envolvido em piadas do tipo "nossa oficina mecânica trabalha com todo tipo de carro, exceto Marea" e "tive um Marea, carro excelente, sinto saudades dele, pena que pegou fogo", o sedã da Fiat exigia um nível de especialização de mão-de-obra que já era comum na Europa, porém ainda não se encontrava com facilidade no Brasil. A troca da correia dentada do motor, por exemplo, era bem complexa e até hoje é um pesadelo para alguns mecânicos. A recomendação inicial da Fiat de se realizar as revisões do veículo em intervalos de 20 mil quilômetros sem o devido alerta de que as trocas de óleo deveriam ser realizadas em prazos menores, somado à necessidade de se utilizar lubrificante específico (inicialmente o 20W50 SJ, e posteriormente os tipos 10W40 e 15W40 semi-sintéticos), que muitas vezes não era seguida à risca, fizeram com que muitos motores de Marea criassem borra ou até fundissem. Não é à toa que os exemplares bem-cuidados do médio da Fiat são cada vez mais admirados e valorizados.

Vem conferir a Galeria de Fotos do Fiat Marea SX 2.0 20v 1999!




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