Soluções para ampliar a segurança no trânsito em Teresina


Artigo para o V Prêmio Cidade de Teresina de Educação no Trânsito, Categoria Profissional de Comunicação

A cidade de Teresina, capital do Piauí, lida com uma frota expansiva de automóveis e vivencia uma estabilização na ocorrência de acidentes fatais - dados do Projeto Vida no Trânsito, com informações do SAMU e dos órgãos de trânsito, apontam que, em 2014, houve 147 vítimas fatais, exatamente a mesma quantidade de mortos de 2013. Minimizar as chances de acidentes e suas consequências é uma tarefa extensa, porém possível de ser posta em prática, com a atuação da população e a colaboração dos órgãos públicos, oferecendo mais segurança e bem-estar a toda a sociedade teresinense.

O passo primordial é educar as crianças e adolescentes sobre as noções essenciais para locomoverem-se em segurança, através das escolas e de campanhas educativas: estender a mão para atravessarem a faixa de pedestre, usar os equipamentos de segurança ao passear de bicicleta ou skate (joelheiras, cotoveleiras, capacete) e também criar o hábito de usar a cadeirinha infantil ou assento de elevação em conjunto com o cinto de segurança assim que entrar no automóvel. Quem sabe assim, os pequenos passem a cobrar de outros familiares e amigos o uso dos equipamentos de proteção.

Em 2004, uma iniciativa propunha aos alunos de escolas em municípios do Paraná fiscalizar os pais nos casos de infração, estabelecendo "multas" que iam da escala leve/média (uma bala), grave (uma goma de mascar) à gravíssima (uma barra de chocolate), ideia lúdica, fácil de ser aplicada e que faz com que, desde a infância, sejam assimiladas as noções das ações permitidas e proibidas no trânsito.


O desafio seguinte é formar nossos condutores com foco na direção defensiva, sabendo proceder em situações que poderá se deparar a qualquer momento. Como reagir diante de uma pessoa ferida em um acidente? De que forma pisar no pedal uma frenagem de emergência? Conheço meus limites e sei me posicionar corretamente ao dirigir?


Teresina ainda é uma das cidades brasileiras com o menor índice de aprovação nos exames práticos do Detran, abaixo dos 60%, cota mínima estabelecida para que os Centros de Formação de Condutores estejam em funcionamento: é preciso contornar os pontos falhos quando se está ao volante, com a ajuda dos instrutores - pois cometer dois erros nesta prova já é motivo para a reprovação. O nervosismo, diante de avaliadores em sua maioria carrancudos, também atrapalha quem já está preparado para dirigir.

Pessoas do sexo masculino representaram 85,7% dos mortos em acidentes e 83,4% dos feridos graves, o que comprova que as mulheres são mais cuidadosas ao volante e se envolvem menos em acidentes sérios.


Depois da obtenção da tão sonhada Carteira Nacional de Habilitação, não adianta relaxar na segurança. É verdade que desde o início de 2014 todo automóvel zero-quilômetro vem de fábrica com airbags frontais e freios ABS. Também é verdade que os modelos vem evoluindo progressivamente, adotando controles de estabilidade e tração, airbags laterais e de cortina, monitoramento da pressão dos pneus... mas de que adiantam tantos recursos se o primordial - o cinto de segurança, não estiver afivelado? Quando se está solto dentro do carro, a física é impiedosa e joga o corpo do ocupante violentamente pela inércia. O encosto de cabeça também precisa estar regulado em altura para proteger a coluna cervical do "efeito chicote".


A analogia é semelhante a quem pilota motos, com o agravante deste veículo de duas rodas ser um dos mais vulneráveis em caso de colisão. Andar de motocicleta requer uma habilidade muito maior em comparação às bicicletas. Em Teresina, ainda de acordo com dados do Projeto Vida no Trânsito, os motociclistas se envolveram em 58,5% dos acidentes fatais e nada menos que 80,3% das colisões graves registradas em 2014 - os pedestres representaram 19,1% dos mortos e 8,3% dos feridos graves no ano passado. A ausência do capacete foi responsável por 64,7% das vítimas fatais em acidentes em 2013, índice reduzido para 37,0% em 2014.



Estamos em 2015 e ainda existem mentalidades que ignoram os riscos de dirigir embriagado. A Lei Seca, instituída em 2008 e que se tornou mais rigorosa há três anos, proporcionou avanços, mas ainda são registrados cotidianamente casos de acidentes envolvendo motoristas bêbados. As campanhas publicitárias atuais parecem não surtir efeito. O percentual de pessoas mortas em acidentes com indícios de ingestão de bebida alcoólica caiu de 33,3% em 2013 para 22,6% em 2014, mas os envolvidos em acidentes graves oscilaram de 34,7% para 35% no ano passado.


Dirigir com uma mão no volante e outra no celular também não é uma boa combinação: para começar, o raciocínio que fazemos para nos comunicarmos coerentemente já prejudica a concentração ao volante até mesmo quando se usam recursos como o viva-voz. Imagine então manter uma conversa de texto em meio ao trânsito: ao olhar para a tela, metros a fio são percorridos sem atenção. Não é à toa que as centrais multimídia mais modernas bloqueiam certos conteúdos que possam distrair o motorista.


Hoje, em quase todas as concessionárias o consumidor pode se guiar pelos índices de eficiência do Inmetro, que vão do A para o E, do mais econômico para o mais gastão. Por que não considerar na compra os resultados do Latin NCAP, o órgão que avalia a segurança em crash-tests de modelos comercializados na América Latina? Apesar de alguns modelos já terem sido atualizados, estas informações são as mais próximas de uma padronização, além de serem conduzidas por uma equipe desligada a interesses de quaisquer fabricantes. Quanto mais estrelinhas, maiores são as chances do veículo proteger a integridade física de seus ocupantes.

E se a população estiver disposta a mudar de comportamento, a prefeitura pode ampliar seus investimentos. Os ônibus urbanos poderiam ser dotados dos cintos de segurança subabdominais (de dois pontos) que já estão disponíveis nas lotações interestaduais, a fim de evitar o choque dos corpos dos passageiros com partes metálicas internas.



A implementação e manutenção da sinalização adequada - semáforos para carros e pedestres, faixas, placas de sinalização - bem como a conservação das ruas, avenidas, rampas para cadeirantes e ciclovias, é fator de importância para a segurança de todos os que transitam, bem como a abordagem periódica de motoristas por parte do Strans e da Polícia Rodoviária Federal, para fiscalizar e orientar sobre a proteção das vidas em ações simples, como respeitar os limites de velocidade, utilizar os dispositivos de segurança e conduzir atentando aos outros ao seu redor.



Nosso abandonado kartódromo da Avenida Nossa Senhora de Fátima poderia ser revitalizado para fazer com que o gosto pelo automobilismo fosse difundido, em um local seguro, entre crianças e adultos, como já ocorre em Brasília (DF).


E por que não levar as pessoas a refletirem que, agindo de forma segura, elas poderão desfrutar melhor da vida? É assim também com os carros antigos, preservados ao longo das décadas, apresentados nos encontros que ocorrem periodicamente em Teresina. A prefeitura promoveu este ano a Exposição "Maio Amarelo" na Ponte Estaiada, que contou com a participação de membros do Clube do Carro Antigo, preconizando sobre a importância da segurança no trânsito para se chegar mais longe.

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