Latin NCAP: zero estrela para Kia Sportage, Hyundai Accent e GWM Wingle 5


Na mais recente etapa do Programa de Avaliação de Veículos Novos para a América Latina e o Caribe, o Latin NCAP, foram divulgados resultados decepcionantes de zero estrela para o Kia Sportage, Hyundai Accent e Great Wall Wingle 5, que são comercializados em países latino-americanos.


O Kia Sportage avaliado, fabricado na Coreia do Sul, contava com apenas dois airbags frontais e não dispunha do controle de estabilidade de série. No Brasil, o Sportage é vendido em três versões: básica (P. 252), intermediária (P. 264) e completa (P. 265), e a versão básica tem exatamente a mesma configuração do modelo testado (apenas 2 airbags e sem controle de estabilidade), enquanto as demais versões possuem 6 airbags e os controles eletrônicos para estabilização da carroceria. O SUV obteve as notas 48,15% na proteção de ocupantes adultos, 14,87% na proteção de crianças, 57,64% na proteção para pedestres e usuários vulneráveis​ ​das estradas (como ciclistas e motociclistas) e 6,98% nos sistemas de assistência à segurança. Em comparação com seu meio-irmão Hyundai Tucson, cujos resultados divulgados em dezembro também apontaram para a nota zero em âmbito geral, o Sportage obteve notas maiores na proteção para crianças, pedestres e usuários vulneráveis das vias, teve pior nota na proteção para adultos e empatou na (falta de) disponibilidade de itens de segurança. 


O Sportage foi avaliado em impacto frontal, impacto lateral, proteção à coluna cervical (whiplash) e proteção de pedestres. O modelo teve um bom desempenho no impacto frontal e no impacto lateral para proteção de adultos, mas a falta do airbag lateral com proteção para a cabeça de série limitou a pontuação total do veículo. O teste de whiplash mostrou boa proteção. A estrutura do habitáculo foi considerada estável, mas a área do assoalho se mostrou instável para o Latin NCAP. A proteção para crianças foi considerada "pobre" (a pior possível) porque a Kia se recusou a recomendar os modelos de cadeirinhas infantis para os testes. A proteção para pedestres variou de média a adequada, com proteção de marginal a boa nas partes superior e inferior da perna e de boa a marginal para a cabeça do pedestre. O veículo não oferece frenagem autônoma de emergência para usuários vulneráveis ​​das estradas em todas as versões, e, portanto, não possui dispositivos para compensar, mitigar ou eventualmente prevenir o atropelamento de pedestres. Dos sistemas de assistência à segurança, o Sportage só pontuou por conta do alerta do não-uso do cinto de segurança, não oferecendo controle de estabilidade ou outras tecnologias relevantes desde a versão mais básica. O Latin NCAP sugeriu que a Kia oferecesse unidades patrocinadas para avaliar versões mais bem equipadas do SUV para mostrar aos consumidores os benefícios da presença de mais equipamentos de segurança, mas o fabricante se recusou.


A partir de 2020, todos os veículos avaliados são testados quanto à segurança passiva de pedestres, o que significa que a frente do veículo sofre impactos mais de uma vez. Após cada teste, todas as partes frontais são substituídas por novas, o que implica a necessidade de um grande número de partes frontais de reposição. Ao contrário dos demais veículos avaliados pelo Latin NCAP na proteção de pedestres, o Latin NCAP levou mais de sete meses para obter todas as peças do Kia Sportage - esperava-se que seus resultados fossem publicados anteriormente neste ano, exatamente como também ocorreu com o Hyundai Tucson. O Latin NCAP acredita que pode ter ocorrido ação ativa do fabricante do veículo para atrasar os resultados, ou que simplesmente o sistema de peças de reposição da Kia seria ineficiente, lento e manteria o consumidor esperando meses por uma peça original.


O Hyundai Accent, fabricado na Índia e no México, com airbag para o motorista e sem controle de estabilidade de fábrica, ganhou zero estrela. O sedã compacto atingiu 9,23% na proteção de adultos, 12,68% na proteção de crianças, 53,11% na proteção de pedestres e usuários vulneráveis ​​das estradas e 6,98% nos sistemas de assistência à segurança.


O Accent foi avaliado quanto ao impacto frontal, impacto lateral, proteção cervical (whiplash) e proteção de pedestres. O modelo apresentou desempenho pobre já no impacto frontal, por conta da falta de proteção para tórax para o passageiro adulto que fez ganhar zero ponto neste teste, e uma proteção de impacto lateral de "marginal a boa" para a proteção dos adultos. O teste de impacto lateral de poste não pode ser feito porque o Hyundai não oferece airbags laterais com proteção para a cabeça como item de série, e, neste quesito, obteve zero ponto. O teste de proteção cervical (whiplash) mostrou proteção marginal. A estrutura do habitáculo e a área do assoalho foram consideradas estáveis. 


A proteção de crianças foi pobre (a pior possível) porque a Hyundai se recusou a recomendar os tipos de cadeirinhas infantis para os testes. A proteção para pedestres em geral foi de marginal a fraca para a cabeça, boa para a coxa e de fraca a adequada para a parte inferior da perna, e o modelo não possui frenagem automática de emergência para compensar a proteção de pedestres descrita anteriormente, mitigar ou eventualmente impedir o atropelamento de pedestres. Assim como o Sportage, em se tratando dos sistemas de assistência à segurança, o Accent só obteve pontos por conta do alerta do não-uso do cinto de segurança. Segundo o Latin NCAP, mesmo que tivesse dois airbags frontais, o Accent também teria recebido nota zero por conta da não recomendação do tipo de cadeirinha infantil a ser utilizada, bem como pela falta de airbags laterais com proteção para cabeça padrão e do controle eletrônico de estabilidade como itens de fábrica. O Latin NCAP sugeriu à Hyundai que pudesse patrocinar exemplares de versões mais bem equipadas para mostrar aos consumidores os benefícios de mais equipamentos de segurança, mas o fabricante se recusou.


A picape Great Wall Motor Wingle 5, feita na China, com dois airbags frontais de série e sem controle de estabilidade, recebeu zero estrela. A picape atingiu as notas 9,31% em proteção de adultos, 0,00% em proteção de crianças, 19,48% em proteção de pedestres e usuários vulneráveis ​​das estradas e 0,00% em sistemas de assistência à segurança.


A Wingle 5 foi avaliada em impacto frontal, impacto lateral, proteção cervical (whiplash) e proteção de pedestres. A picape apresentou baixo desempenho no impacto frontal, com proteção fraca para a cabeça, pescoço e tórax do motorista, bem como para o tórax do passageiro, mostrando alta probabilidade de ferimentos até mesmo com risco de morte para ambos os ocupantes adultos, o que resultou em zero ponto neste teste. No impacto lateral, a chinesa obteve proteção de "adequada a boa" para o adulto; porém, a estrutura teve uma alta intrusão da carroceria durante a colisão. Sem poder participar do teste de impacto contra poste por não ter airbags laterais com proteção para a cabeça de fábrica, a picape obteve zero ponto neste quesito. O teste de proteção à coluna cervical (whiplash) mostrou proteção pobre (a pior possível). 


Tanto a estrutura do habitáculo quanto a área do assoalho foram consideradas instáveis na picape. A proteção para crianças foi pobre e obteve zero ponto porque a Greal Wall Motor se recusou a recomendar os tipos de cadeirinhas infantis a serem utilizadas para os testes; além disso, a picape ainda vem com cinto subabdominal na posição central do banco traseiro. A proteção para pedestres em geral foi de pobre a fraca para a cabeça, boa para a coxa e de fraca a adequada para a parte inferior da perna. No que diz respeito aos sistemas de assistência à segurança, a picape obteve zero ponto, pois não oferece sequer o lembrete do não uso do cinto de segurança. O Latin NCAP sempre contata todos os fabricantes de automóveis antes de realizar os testes, convidando-os a participar deles para se envolverem no processo. O Latin NCAP informou à Great Wall Motor sobre o teste do Wingle 5, mas o fabricante não respondeu o órgão, nem tentou entrar em contato com o Latin NCAP.


Alejandro Furas, Secretário Geral do Latin NCAP, disse:
“É muito decepcionante que um grupo de fabricantes de veículos tão importantes como Hyundai-Kia ofereça um desempenho de segurança tão baixo para equipamentos de segurança padrão para consumidores latino-americanos. Os consumidores dos mercados de economias maduras obtêm deste mesmo fabricante segurança de ponta nos mesmos modelos e, muitas vezes, a preços mais baixos do que na América Latina. A partir de testes recentes de modelos Hyundai-Kia como o Picanto, HB20, Accent, Tucson e Sportage, parece que independente da faixa de preço, há certa visão do grupo para os consumidores latino-americanos. A vida de um latino-americano não parece ser tão valiosa e importante quanto a de um coreano, americano, japonês, europeu ou australiano. Nós merecemos os mesmos níveis básicos de segurança sem ter que pagar mais por eles. Apoiamos esta ação e pedimos ações urgentes para nivelar o padrão básico de segurança na América Latina para coincidir com as melhores práticas globais. O Wingle 5 é uma picape muito popular, usada principalmente para fins de trabalho e muito popular entre frotas. A GWM tem produtos de segurança básica de bom desempenho disponíveis na Austrália e no Reino Unido que devem ser o padrão de referência para a América Latina. O Latin NCAP acredita que as informações ao consumidor conhecidas como rotulagem de segurança do veículo podem ajudar a melhorar drástica e rapidamente o nível de segurança dos veículos como resultado de uma ação voluntária”.


Stephan Brodziak, Presidente do Conselho de Administração do Latin NCAP, disse:
“Estamos indignados com o fato de a Kia estar comercializando carros em nossa região com desempenho de segurança tão ruim em suas versões básicas. Após a avaliação do Rio Sedan e do Picanto, o resultado desastroso do Kia Sportage revela que a segurança básica aplicada aos modelos comercializados na América Latina é insuficiente para proteger adequadamente a população latino-americana. Esse recurso no equipamento de segurança parece ser uma decisão corporativa compartilhada pela Hyundai ao nos mostrar um resultado muito ruim com o Novo Accent. Graças ao programa Latin NCAP, é possível rastrear o desempenho geral de segurança dos veículos de uma marca. Resta saber se o péssimo resultado do Wingle 5 de 0 estrela é uma decisão corporativa aplicável a todos os seus modelos ou se eles decidiram apenas discriminar os consumidores latino-americanos com este modelo. Não é muito caro para as marcas melhorar a segurança; porém, pode custar a vida dos consumidores ou a perda de um ente querido. Exigimos carros mais seguros para nossa região, exigimos que Hyundai, Kia e GW forneçam a mesma segurança básica que em países com economias maduras sem ter que pagar mais por isso”.

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