O mercado de hatchbacks médios em território brasileiro viveu seu "boom" em 2009, quando foram lançados Hyundai i30 e Citroën C4, que competiam com modelos ainda com cheiro de novidade, como Ford Focus e Chevrolet Vectra GT "Remix". A Fiat, que tinha o Stilo como representante, investiu no sucessor Bravo, que foi apresentado aos brasileiros no Salão de São Paulo em 2010. E, ainda que na Itália ele tenha sido descontinuado, no Brasil ele foi submetido a uma intervenção estética para se manter atraente, com a dura missão de encarar rivais aclamados em todo o mundo e em dia com seus homônimos estrangeiros. Seus nomes: VW Golf e Ford Focus.Gerado sob o codinome "Projeto 198", o Fiat Bravo começou a ser produzido na Itália em janeiro de 2007, com desenvolvimento predominantemente virtual e reutilizando a nomenclatura do irmão de duas portas do Brava, que não chegou a ser comercializado oficialmente no Brasil, pois viria importado e o início de 1999 viu as cotações do dólar subirem absurdamente. Apesar do atraso considerável, o Bravo brasileiro incorporou novidades em automóveis nacionais, como o sistema Blue & Me Nav, teto solar Skydome e faróis de neblina com função "Cornering". A versão avaliada Blackmotion é novidade da linha 2015 e assume o lugar do antigo topo-de-linha aspirado Absolute, com diferenciais estéticos e motor 1.8 16v E.torQ.
O estilo "atrevido" do Blackmotion é reforçado pelas rodas aro 17'' (com pneus 215/45) herdadas da série Wolverine de 2013, além das faixas nas laterais. Estes detalhes o tornam significativamente mais atraente que a versão de entrada Essence, ainda que os adornos cromados no para-choque, o logotipo "Bravo" acima do escudo da Fiat e o aplique preto-brilhante integrado à grade sejam elementos destoantes do design original.
Alguém pode estar pensando: "um carro com sobrenome 'Blackmotion' pintado na cor prata?". As coisas começam a fazer sentido ao entrar no Bravo: painel, bancos, revestimentos das portas, tapetes, pedais e até o forro de teto são pretos; para arrematar, "nosso" Bravo ainda trazia películas escurecedoras de vidro em 50% (algo raro em carros destinados à imprensa). Pena que o calor de Teresina, onde já estamos entrando no período do "b-r-o-bró", invade sem licença a cabine.
Internamente, o Bravo se destaca por uma atenção ao acabamento que deixaria modelos como o Focus SE Plus corados de vergonha. O painel possui textura macia e não foram encontradas rebarbas ou desníveis. O volante possui comandos de som e telefonia nos raios do volante (contando ainda com comandos-satélite do controlador de velocidade de cruzeiro, na parte esquerda-inferior), além de ter boa empunhadura, mas conosco não ajustou em profundidade (apenas altura). Seu quadro de instrumentos traz instrumentos circulares de fácil leitura e uma pequena tela monocromática do computador de bordo, que apresenta autonomia, distância/tempo/consumo nas Trips A e B (informações também exibidas no Uconnect), estação de rádio, marcha engatada, modo do câmbio e alertas. Só fez falta o velocímetro instantâneo, pois o medidor analógico está à esquerda, significativamente fora do campo de visão do motorista.
Os bancos de couro, que na dianteira trazem o logotipo da versão, apoiam bem o corpo. Os forros das portas também trazem o revestimento em couro. O motorista tem à disposição o ajuste de altura, e o passageiro da frente pode guardar pequenos objetos em uma miniatura de porta-luvas abaixo de seu assento. Quem senta atrás possui um descansa-braço central que esconde um porta-copos retrátil (bem que poderia haver uma tira de tecido para facilitar sua abertura), porta-revistas no verso dos bancos da frente, e dentro do apoio de braço frontal ajustável há um nicho climatizado circular, para garrafas de aproximadamente 600 mL: uma boa sacada para manter a temperatura de bebidas.
O sistema multimídia Uconnect matou nossas saudades do Renegade, trazendo interface gráfica levemente diferente do utilitário (parecida com Punto e Linea, porém não 100% igual), mas com recursos praticamente idênticos: GPS TomTom, tela sensível ao toque de 5 polegadas, entradas USB e auxiliar, Bluetooth, computador de bordo, gerenciamento de funções... Uma das falhas que relatamos no Jeep - a falta da sincronização da barra de tempo das músicas executadas por Bluetooth - não se manifestou no Fiat. Também houve uma compreensão melhor dos comandos por voz. Porém, a resolução da câmera de ré (que fica logo abaixo do escudo da montadora) é significativamente menos nítida, especialmente à noite. O Bravo rebate ao oferecer sensores de estacionamento não só na traseira, como também no para-choque dianteiro (opcional), com apitos em tons diferentes.
O Bravo traz, ainda, sensores de chuva e de luminosidade, rebatimento e ajuste elétrico dos retrovisores externos, alarme, para-brisa degradê, faróis de neblina que acompanham o movimento do volante, espelho interno eletrocrômico, alerta de velocidade programada, protetor de cárter, apoio de pé para o motorista e regulagem de inclinação do encosto dos bancos dianteiros por roldana.
O porta-malas, que tem a tampa destravada pela chave ou dando um toque na parte vermelha do símbolo da Fiat, acomoda a boa capacidade de 400 litros, com duas fendas para puxar a tampa, carpete envolvendo a "embalagem" do triângulo de sinalização, iluminação à esquerda, rede para acomodação de cargas e um estepe de ferro de modelo e medidas diferentes dos outros pneus (Pirelli Cinturato P7 205/55 aro 16'') - daí o alerta para se rodar a no máximo 80 km/h. Bipartido, o encosto do banco traseiro, ao ser rebatido, libera 1175 litros de capacidade até o teto.
Em termos de segurança, o Bravo Blackmotion traz 7 airbags (frontais, laterais, de cortina e para os joelhos do motorista), cintos de segurança frontais com ajuste de altura (e fechos inclináveis), encostos de cabeça ajustáveis e cintos de 3 pontos para os cinco ocupantes, sistema ISOFIX de acomodação de cadeirinhas infantis, freios a disco nas quatro rodas (ventilados na dianteira) com ABS e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), além do FPS (corte do combustível e destravamento das portas em caso de acidente). Os resultados dos crash-tests realizados pelo Euro NCAP no Fiat europeu foram de 5 estrelas de proteção aos ocupantes adultos e 3 estrelas de proteção a crianças em cadeirinhas infantis.
Ao alternar para o modo manual (sem intervenção do software nas mudanças, embora possa alertar "manobra não consentida" quando a marcha selecionada não é ideal), as aletas atrás do volante para trocas de marcha sequenciais deixam a experiência mais divertida. No modo automático, curiosamente ao pisar comedidamente no acelerador, o sistema entrega mais agilidade do que pressionando o pedal até o fundo, o que não é lá muito coerente...
A proposta do Dualogic é oferecer a comodidade de dirigir sem trocar marchas a um custo inferior ao do câmbio automático com conversor de torque, sendo atualmente oferecido nos Fiat Uno, Palio, Grand Siena, Strada, Idea, 500 (que tem a versão Cabrio automática de 6 marchas), Weekend, Punto e Linea. A aceitação ao sistema foi superior à tentativa anterior de eliminar a embreagem com o Palio Citymatic, lançado no fim de 1999 e que tinha trocas de marcha manuais, e foi retirado do mercado pouco tempo depois.
Mas os câmbios adotados por Golf e Focus também são tecnicamente automatizados, certo? Sim, porém contam com duas embreagens, fazendo com que a marcha a seguir seja pré-engatada, o que garante suavidade próxima aos automáticos tradicional - e ainda assim, diversos relatos pela internet põem em discussão a confiabilidade dos câmbios DSG (VW) e PowerShift (Ford). Apertando o botão do modo Sport do Bravo, as trocas ficam levemente mais esportivas, e a direção também se torna mais rígida.

Apesar de ter um bom isolamento acústico, o Bravo gosta de fazer barulho: ao abrir a porta, um rangido indica que o Dualogic está sendo inicializado; além disso, o som do motor em marcha-lenta após certo tempo de funcionamento lembra o de turbinas de avião! Nada ensurdecedor, porém.
"Nosso" Bravo é uma unidade 2014/2015, e enquanto era finalizada esta matéria, a Fiat apresentou sua linha 2016, com reajustes de preço. Sem opcionais, a versão Blackmotion custa R$ 71 570, mas para ficar igual ao modelo avaliado, é preciso acrescentar pintura metálica (Prata Bari, R$ 1450), Pack Safety (por R$ 3806, incorpora airbags laterais, de cortina, para os joelhos do motorista e encostos de cabeça dianteiro que minimizam o "efeito-chicote" de colisões), câmbio Dualogic com aletas no volante (R$ 3528) e Kit Creative Top (por R$ 3635, acrescenta câmera de ré, espelho interno eletrocrômico, sensor de estacionamento dianteiro, sistema de som com subwoofer, rebatimento elétrico dos retrovisores externos, além dos sensores de chuva e luminosidade), chegando ao preço final de R$ 83 989.
O valor é similar ao do Golf Comfortline com câmbio DSG e pintura metálica (R$ 83 292), enquanto o Focus com lista de equipamentos equivalente (Titanium 2.0 Powershift) custa R$ 86 900, e o Cruze Sport6 LTZ (1.8 com câmbio automático de seis marchas) é tabelado em R$ 87 750.
Design = 8,5
O novo visual deu um toque de atualidade ao Bravo, mas detalhes como os frisos cromados no para-choque dianteiro e a boca central não harmonizam muito com o restante da elegante carroceria. Ainda assim, faz bonito entre a galera jovem.
Espaço interno = 8,5
Quatro adultos e uma criança conseguem se acomodar bem, com espaço farto para as pernas e suficiente para a cabeça. O meio do banco traseiro naturalmente possui espaço mais acanhado. O porta-malas possui boa profundidade e usabilidade.
Conforto = 8,5
Tem função City para tornar o volante mais leve, suspensão que absorve bem as irregularidades e um sistema de som ótimo, mas o câmbio Dualogic e suas indecisões nas trocas de marcha (quando no modo automatizado) interferem significativamente na tranquilidade ao rodar.
Acabamento = 9,0
Aqui, o Bravo se equipara ao badalado Golf VII e entrega arremates e materiais de qualidade que satisfazem aos mais exigentes nesta categoria, com discrição em suas cores. O aspecto geral dos componentes é de boa durabilidade, embora os detalhes em preto-brilhante acumulem manchas de dedos no dia-a-dia.
Equipamentos = 9,25
Para um modelo desta faixa de preço, a lista de itens é recheada: ar-condicionado com duas zonas de temperatura, central multimídia com GPS e câmera de ré, sensores de chuva, de estacionamento e de luminosidade, porta-garrafas refrigerado... o único item que está disponível e não veio nesta unidade é o teto solar elétrico Skydome (e vinculado a ele, o ajuste de altura do banco do passageiro).
Desempenho = 8,0
Manso em rotações baixas, o Bravo embala bem após médias rotações, tendo torque suficiente para retomadas de velocidade e boa estabilidade, a despeito dos 1411 quilos. Mas o modo Sport poderia interferir mais diretamente no desempenho - ou a exemplo do Punto Blackmotion, que também traz o motor 1.8 16v combinado ao câmbio Dualogic, seria interessante estar disponível o seletor de modos de condução DNA (Dinâmico, Normal e Autonomia).
Segurança = 9,0
Com 7 airbags, cintos de 3 pontos e apoios de cabeça para todos, freios a disco o Bravo deve os controles eletrônicos de tração e estabilidade, que garantem maior controle em situações adversas e estão sendo aplicados em modelos de entrada, como Ka e up! TSI. Apenas o T-Jet dispõe destes recursos de segurança e do Hill-Holder, que não deixa o carro descer segundos após o freio de mão ser liberado.
Consumo = 7,0
No início dos trajetos, o consumo era digno de Camaro (leia-se algo inferior a 5 km/l), mas com o passar dos dias foi melhorando até chegar aos razoáveis 8 km/l na cidade com gasolina, algo esperado considerando o peso da carroceria superior a 1400 quilos e a concepção do motor.
Custo-benefício = 7,5
Quem tem Punto ou Linea vai dar um bom upgrade ao passar para o Bravo, mas dentro de seu segmento, Golf e Focus são rivais tão equilibrados e consagrados que é até difícil imaginar o consumidor entendido de automóveis abrir mão de um dos dois para escolher o Blackmotion (o T-Jet até seria uma opção para os que gostam de acelerar). Atualmente, o custo-benefício do Bravo é superior ao do Cruze Sport6 (que encareceu significativamente nos últimos meses), só que com todos os itens o Fiat encarece consideravelmente, mas permanece aquém da tranquilidade esperada de um carro automático.
Nota Final = 8,4
As notas são atribuídas considerando a categoria do carro analisado, os atributos oferecidos pelos concorrentes, além das expectativas entre o que o modelo promete e o que, de fato, oferece. Frações de pontuação adotadas: x,0, x,25, x,5, x,75. Critérios - Design = aspecto externo. Espaço interno = amplitude do espaço para passageiros (dianteiros e traseiros) e bagagem. Conforto = suspensão, nível de ruído, posição de dirigir, comodidades. Acabamento = atenção aos detalhes internos. Equipamentos = itens de tecnologia e conforto, sejam de série ou opcionais. Desempenho = aceleração, velocidade máxima, retomada, handling e outros fatores. Segurança = itens de proteção ativa e passiva. Consumo = combustível gasto e autonomia. Custo-benefício = relação de vantagem entre o preço pago e o que o carro entrega.




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